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sábado, 28 de abril de 2012


MARIENE DE CASTRO EMOCIONADA AO CANTAR UM SER DE LUZ, HOMENAGEM À CLARA EM SEU NOVO TRABALHO





Mariene de Castro nacionaliza sua ‘tabaroíce’ em novo disco


RIO - Diminutivo feminino de tabaréu (o mesmo que matuto, capiau), "tabaroinha" é como a baiana Mariene de Castro se define. Ao escolher o adjetivo como título de seu terceiro CD, ela procura mostrar que estrear numa grande gravadora (Universal) e ser acolhida como uma das mais promissoras cantoras de samba não estão alterando seu jeito de ser.
— Saio da minha taba para me misturar com outras tribos, mas sem perder meu sotaque, meu canto, meu ritmo — afirma ela, grávida aos 33 anos de seu quarto filho (a primeira menina) e que virá para o Rio, com o barrigão, lançar o disco na próxima quarta-feira, no Rival. — Vou levar minha tabaroíce por aí até junho. Quero contribuir com esse olhar e esse sentimento do tabaréu, que tem um tempo diferente, mais lento. E, hoje, ninguém tem tempo para mais nada.

Estúdio no meio da floresta

A realização do CD seguiu esse pensamento. Mariene, seus filhos, o produtor Alê Siqueira, os músicos (alguns estão com ela desde o início da carreira, em 1996) e técnicos passaram um mês num estúdio montado no meio de um parque florestal de Mata de São João, pequeno município na Costa do Sauípe.
— É um lugar simples, de gente simples. Não pegava telefone nem internet. Só à noite, quando íamos dormir num hotel em Sauípe, tínhamos acesso a isso. Foi fundamental para o disco ficar com a minha cara — conta.
Mariene acha que, das 13 faixas, "Estrada do Canindé" é a que traduz melhor a tal tabaroíce. Mas a canção do pernambucano Luiz Gonzaga e do cearense Humberto Teixeira é exceção num repertório em que ainda predominam autores e sonoridades da Bahia.
— Nos meus outros discos, 90% dos compositores eram baianos. Agora tem Martinho da Vila, Arlindo Cruz, João Nogueira e, além dos cariocas, tem a Flavia Wenceslau, que é paraibana (autora de "Filha do mar") — diz ela, que considera natural priorizar o ambiente baiano. — As referências do candomblé, por exemplo, são muito próximas, sou filha de Oxum.
Roque Ferreira, sempre o mais escolhido por Mariene, é o compositor de "Orixá de frente", "Ponto de Nanã" e "Foguete" (em parceria com J. Velloso). Outros baianos contemporâneos são Nelson Rufino ("Amuleto da sorte") e Roberto Mendes ("Marujo", com Nizaldo Costa). E ela ainda escolheu um tema de Dorival Caymmi ("Tia Nastácia", adaptação que ele fez de sua "Cantiga pro sinhozinho" para a trilha da primeira versão do "Sítio do Picapau Amarelo") e o lundu de Xisto Bahia que foi, em 1902, a primeira música gravada no Brasil: "Isto é bom".


Embora admiradora e amiga de Maria Bethânia — tia de J. Velloso, com quem Mariene foi casada —, a cantora vem sendo mais comparada a Clara Nunes. O jeito de cantar e o cabelo lembram a mineira que se radicou no Rio e estaria completando 70 anos em 2012, mas Mariene diz que só foi conhecer o trabalho de Clara quando era adulta, e por causa das comparações. Agora, gravou "Um ser de luz", feita por João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro pouco após a morte da intérprete, em 1983.
— Ouvi "Um ser de luz" no Rio, na voz da Beth Carvalho, e naquele dia entendi a saudade que o Brasil tem de Clara. Para ficar mais emocionada, fui chamada para cantar exatamente "Um ser de luz" num projeto em homenagem a João Nogueira — explica ela, que também participou do projeto "Quintal do Pagodinho" e vem cativando cariocas como Arlindo Cruz (autor da faixa "A pureza da flor") e Martinho da Vila (de quem regravou "Roda ciranda").

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