MARIENE DE CASTRO EMOCIONADA AO CANTAR UM SER DE LUZ, HOMENAGEM À CLARA EM SEU NOVO TRABALHO
Mariene de Castro nacionaliza sua ‘tabaroíce’ em novo disco
RIO - Diminutivo feminino de tabaréu (o mesmo que matuto, capiau),
"tabaroinha" é como a baiana Mariene de Castro se define. Ao escolher
o adjetivo como título de seu terceiro CD, ela procura mostrar que estrear numa
grande gravadora (Universal) e ser acolhida como uma das mais promissoras
cantoras de samba não estão alterando seu jeito de ser.
— Saio da minha taba para me misturar com outras tribos, mas sem perder meu
sotaque, meu canto, meu ritmo — afirma ela, grávida aos 33 anos de seu quarto
filho (a primeira menina) e que virá para o Rio, com o barrigão, lançar o disco
na próxima quarta-feira, no Rival. — Vou levar minha tabaroíce por aí até
junho. Quero contribuir com esse olhar e esse sentimento do tabaréu, que tem um
tempo diferente, mais lento. E, hoje, ninguém tem tempo para mais nada.
Estúdio no meio da floresta
A realização do CD seguiu esse pensamento. Mariene, seus filhos, o produtor Alê
Siqueira, os músicos (alguns estão com ela desde o início da carreira, em 1996)
e técnicos passaram um mês num estúdio montado no meio de um parque florestal
de Mata de São João, pequeno município na Costa do Sauípe.
— É um lugar simples, de gente simples. Não pegava telefone nem internet. Só à
noite, quando íamos dormir num hotel em Sauípe, tínhamos acesso a isso. Foi
fundamental para o disco ficar com a minha cara — conta.
Mariene acha que, das 13 faixas, "Estrada do Canindé" é a que traduz
melhor a tal tabaroíce. Mas a canção do pernambucano Luiz Gonzaga e do cearense
Humberto Teixeira é exceção num repertório em que ainda predominam autores e
sonoridades da Bahia.
— Nos meus outros discos, 90% dos compositores eram baianos. Agora tem Martinho
da Vila, Arlindo Cruz, João Nogueira e, além dos cariocas, tem a Flavia
Wenceslau, que é paraibana (autora de "Filha do mar") — diz ela, que
considera natural priorizar o ambiente baiano. — As referências do candomblé,
por exemplo, são muito próximas, sou filha de Oxum.
Roque Ferreira, sempre o mais escolhido por Mariene, é o compositor de
"Orixá de frente", "Ponto de Nanã" e "Foguete"
(em parceria com J. Velloso). Outros baianos contemporâneos são Nelson Rufino
("Amuleto da sorte") e Roberto Mendes ("Marujo", com
Nizaldo Costa). E ela ainda escolheu um tema de Dorival Caymmi ("Tia
Nastácia", adaptação que ele fez de sua "Cantiga pro sinhozinho"
para a trilha da primeira versão do "Sítio do Picapau Amarelo") e o
lundu de Xisto Bahia que foi, em 1902, a primeira música gravada no Brasil:
"Isto é bom".
Embora admiradora e amiga de Maria Bethânia — tia de J. Velloso, com quem
Mariene foi casada —, a cantora vem sendo mais comparada a Clara Nunes. O jeito
de cantar e o cabelo lembram a mineira que se radicou no Rio e estaria
completando 70 anos em 2012, mas Mariene diz que só foi conhecer o trabalho de
Clara quando era adulta, e por causa das comparações. Agora, gravou "Um
ser de luz", feita por João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro
pouco após a morte da intérprete, em 1983.
— Ouvi "Um ser de luz" no Rio, na voz da Beth Carvalho, e naquele dia
entendi a saudade que o Brasil tem de Clara. Para ficar mais emocionada, fui
chamada para cantar exatamente "Um ser de luz" num projeto em
homenagem a João Nogueira — explica ela, que também participou do projeto
"Quintal do Pagodinho" e vem cativando cariocas como Arlindo Cruz
(autor da faixa "A pureza da flor") e Martinho da Vila (de quem
regravou "Roda ciranda").
Nenhum comentário:
Postar um comentário