Sabiá...Até um dia!

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Carnaval 2012: grandes nomes da música, do teatro, da pintura e da literatura viram enredo de escola de samba


A febre dos patrocínios fez os últimos carnavais serem sofríveis em termos de enredo: Macapá, tecnologia, moda e o "camarote número 1" foram cantados na Avenida, tornando difícil para os compositores fugir da rima "aqui" com "Sapucaí". Mas as notícias para 2012 são animadoras. Os grandes nomes da nossa cultura estarão de volta à Passarela, prometendo enredos sensacionais e, provavelmente, belos sambas para embalar os desfiles.
A maior surpresa veio da Unidos da Tijuca, que ao contrário dos temas conceituais dos últimos carnavais (medo, segredos) presta uma homenagem a Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. A expectativa é grande para ver como o carnavalesco Paulo Barros vai planejar o desfile, já que no Grupo Especial só desenvolveu enredos autorais. Mas não custa lembrar que ele se destacou no Grupo de Acesso com uma homenagem — a Cândido Portinari, em 2003, no Tuiuti.
E Portinari estará de volta à Sapucaí este ano, desta vez na Mocidade. O carnavalesco Alexandre Louzada, antes de decidir para que escola iria ao sair da Beija-Flor, só tinha uma certeza: queria fazer um enredo para lembrar os 50 anos da morte do pintor.
— A primeira coisa que Portinari fez como profissional foi pintar estrelas no teto de igrejas. Agora, no carnaval, vai pintar a estrela-guia, símbolo da Mocidade — diz Louzada.
E o carnavalesco vai dar expediente duplo este ano: além da Mocidade, fará o carnaval da Viradouro, que homenageia Nelson Rodrigues.
— Vou contar a vida e a obra de Nelson através de suas frases. E vão passar pela Avenida seus tipos inesquecíveis, como as viúvas tristes, as fofoqueiras, as ordinárias, as bonitinhas, as engraçadinhas...
E se Nelson é velho conhecido do público, o artista plástico Romero Britto terá sua obra apresentada a boa parte dos espectadores da Sapucaí, como enredo da Renascer.
— Uma das funções do carnaval é transmitir cultura ao povo. E a arte de Romero precisa ser conhecida — diz o carnavalesco Edson Pereira: — É um desafio falar de um personagem vivo e em atividade.
No lado oposto está a Mangueira, cujo desfile será sobre um bloco muito conhecido do carioca: o Cacique de Ramos.
— Parte da história do carnaval carioca passa pela Mangueira e pelo Cacique. São duas de nossas agremiações mais populares — lembra o carnavalesco Cid Carvalho.
Mais cultura
A Imperatriz escolheu outro ícone brasileiro como enredo: o escritor Jorge Amado. E não para por aí: a São Clemente vai falar dos musicais, e o Salgueiro levará o cordel nordestino à Avenida.
Enredos do Acesso
Além da Viradouro, outras escolas do Grupo A trarão belos temas no sábado de carnaval. Dona Ivone Lara, a Dama do Samba, enfim será enredo do Império Serrano. E a portelense Clara Nunes ganha tributo do Tuiuti - além de ser o fio condutor do enredo da azul-e-branco de Madureira sobre as festas religiosas da Bahia.
Tema bom dá samba
Louzada acredita que a boa safra de enredos vá se refletir na qualidade dos sambas: "Antigamente havia belas obras porque os temas eram autorais. Este ano teremos ótimas composições".
Revelações do Cacique
Por falar em samba bom, o enredo da Mangueira vai lembrar também os sambistas que brotaram nas rodas do Cacique. "O carro 'Frutos da tamarineira' traz o Fundo de Quintal e todos que surgiram a partir dali, como Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho", conta Cid Carvalho.





CLARA Reverenciada por Mariene de Castro



Ela é sambista, baiana, religiosa e dona de uma voz inconfundível. Já trabalhou com gigantes da música na Bahia, como, Timbalada, Carlinhos Brown e Márcia Freire. Logo no seu primeiro show, no Pelourinho, em 1996, foi lançada para a carreira internacional.  Fez show em 20 cidades francesas, foi comparada à Edith Piaf pela crítica europeia e retornou a sua terra natal para amadurecer profissionalmente e ser reconhecida por seus conterrâneos. É com essa mulher, que o Bahia Notícias conversou sobre carreira, gostos e reconhecimento. Ela é Mariene de Castro, soteropolitana apaixonada por música e dança, hoje é conhecida por uma das mais belas vozes da nova geração do samba baiano. Com apresentações que levam para o palco uma mistura de fé e valorização das matrizes regionais, a artista lançou este ano o seu primeiro DVD, Santo de Casa, gravado na Sala Principal do Teatro Castro Alves.  Recentemente Mariene compôs uma canção em parceria com o sambista Nelson Rufino, intitulada "A Força do Gantois", uma homenagem a Mãe Carmem do Terreiro do Gantois. A cantora ainda se apresenta até o final do mês de Julho no Atlântico Hall, proporcionando um belo espetáculo de samba, porém, recheado de fé.

Por James Martins 


Bahia Notícias - Seu show se chama 'Santo de Casa'. Baseado nisso, qual a contribuição que você considera já ter dado, até aqui, à música baiana?


Mariene de Castro - Estou fazendo a minha parte dentro do que acredito. Como mulher, nordestina, cidadã brasileira que entende a importância da história de um povo para sua evolução e consciência do valor da nossa música.


BN - Dizem que você é uma cópia de Clara Nunes tanto quanto Juliana Ribeiro é uma cópia sua. Procede?


MC - Não. Isso é uma saudade que o Brasil tem de uma brasileira que se autoafirmou afrodescendente, cantando a Bahia pela primeira vez, assumindo a sua ancestralidade. Esse jeito de cantar vestida de baiana fez o negro se orgulhar depois de tantos anos de escravidão. Ela foi a primeira mulher a usar colares de conta no pescoço e dizer: “Se vocês querem saber quem eu sou, eu sou a tal mineira, filha de Angola, de Keto e nagô, não sou de brincadeira”. Isso é assumir todo negro que existia dentro do Brasil; alforriado, massacrado, esmagado, excluído. Essa saudade que Clara deixou no país tem relação com a mesma essência do que eu venho falando, do que eu sou, da minha história, do meu povo. Sendo agora uma baiana falando de si. Eu trago da Bahia toda a baianidade, no sentido da cultura, do botar torço na cabeça, de usar pulseiras, que vem da minha religião, de ser uma filha de santo, de ser adepta do candomblé, tudo isso está na minha vida.