Sabiá...Até um dia!

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Margareth Menezes é a primeira convidada no Música Falada 2009



Osmar Marrom | Redação CORREIO
Primeira convidada da edição 2009 do Projeto Música Falada, a cantora Margareth Menezes preparou uma homenagem especial à Jovem Guarda com canções de Jerry Adriani, Vanderley Cardoso e da dupla Leno e Lilian. O evento aconteceu na terça- feira (04) , 21h, no Teatro Castro Alves. 

O projeto, que tem como conceito mostrar um pouco da intimidade do artista e revelar histórias desconhecidas do grande público e dos fãs, promete desvendar algumas influências de Margareth Menezes. 


O Show mostra um pouco da intimidade de Margareth Menezes 

A cantora confessou a Jonga Cunha (diretor musical) que ainda criança foi a um show de
Clara Nunes, na Praia da Boa Viagem, em Salvador, e que aquela cena ficou marcada na memória. “Não me esqueço daquele cabelo vermelho no palco'. Ela foi realmente uma grande influência para eu começar a cantar”, contou.
Jonga já tocou percussão e gravou com Margareth. O Música Falada tem direção geral de Fernando Guerreiro e direção de produção de André Simões (Andrezão).

(Notícia publicada na edição impressa de 02/08/2009 do CORREIO)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

CLARA NUNES-Psicografia 1984 por CHICO XAVIER

PSICOGRAFIA CLARA NUNES



Querida Maria,

Eu pressentia que o encontro através de notícias seria primeiramente com você.Somente você teria suficiente disposição para viajar de Caetanópolis até aqui,no objetivo de atingir o nosso intercâmbio.
Descrever-lhe o que se passou comigo é impossível agora.Aquela anestesia suave que me fazia sorrir se transformou numa outra espécie de repouso que me fazia dormir.
Sonhava com vocês todos e me via de regresso à infância.Cantava.Era pura alegria que me situava num mundo fantástico.Melodias e cores,lembranças e vozes se mesclavam e eu me perdia naquele êxtase desconhecido.Não cuidava de mim.Lembrava-me dos que ficaram,mas ainda não sabia se a mudança seria definitiva.
Conte ao nosso querido Paulo a minha experiência.Tantos dias no descanso,ignorando o que vinha a ser tudo aquilo que se me apresentava à imaginação por fantasia que desconhecia como deslindar.
Peço a você solicitar ao Paulo me perdoe se lhes transmito as presentes notícias com a fidelidade possível.
Acordei num barco engalanado de flores,seguido de outras embarcações nas quais muitos irmãos entoavam hinos que me eram estranhos,hinos em que o amor por Iemanjá era o tônico de todas as palavras.Os amigos que me seguiam falavam de libertação e vitória.
Muito pouco a pouco,me conscientizei e passei, da euforia  ao pranto de saudade porque a memória despertava para a vida na retaguarda e o nosso Paulo se fazia o centro de minhas recordações.Queria-o ali naquela abordagem maravilhosa,pois os barcos se abeiravam de certa praia encantadoramente enfeitada de verde nas plantas bravas que a guarneciam.
Quando o barco que me conduzia ancorou suavemente,uma entidade de grande porte se dirigiu a mim com paternal bondade e me convidou a pisar na terra firme.Ali estavam o meu pai Manoel e a nossa mãezinha Amélia.Os abraços que nos assinalavam as lágrimas de alegria pareciam sem fim.Era muita saudade acumulada no coração.
Ali passei ao convívio de meus pais e os meus guardiões retornavam ao mar alto.Retornei a nossa vida natural e em companhia de meu pai Manoel pude rever você e os irmãos todos,comovendo-me ao abraçar a nossa Valdemira que me pareceu um anjo preso ao corpo.
Querida irmã,não disponho das palavras exatas que me correpondam às emoções.Peço a você reconfortar o nosso Paulo e dizer-lhe que não perdi o sonho de meu filhinho que nascesse na Terra de nossa união e de nosso amor.
O futuro é luz de Deus.Quem sabe virá para nós uma vida renovada e diferente,na qual possamos realmente pertencer-nos para as mais lindas realizações?
Você diga ao meu poeta e beletrista querido,que estou contente por vê-lo fortalecido e resistente,exceção feita aos copinhos que ele conhece e que estou vendo agora um tanto aumentados.
Desejo que ele saiba que o meu amor pelo esposo e noivo permanece que ele continua  sendo para mim está brilhando em meu coração,em meu coração que continua cantando fora de outro coração que me prendia.
A cigarra,por vezes,canta com tanta persistência em louvor de Deus e da natureza que se perde nas cordas que lhe coordenam a cantiga caindo ao chão desencantada.
O meu coração da vida física não suportou a extensão das melodias que me faziam viver e,uma simples renovação para tratamento justo me fez repensar nas maravilhas diferentes a que fui conduzida.
Espero que o nosso Paulo consiga ouvir-me nessas letras.
Agradeço a ele as atitudes dignas com que me acompanhou até o fim do corpo,tanto quanto agradeço a você e às nossa irmãs e irmãos o respeito com que me honraram a memória,abstendo-se de reclamações indébitas  junto aos médicos humanitários que se dispuseram a servir-nos.
Querida irmã,continuem com o nosso grupo em Caetanópolis,o irmão José Viana e o Dr.Borges estão conquistando valiosas experiências.
Muitas saudades e lembranças a todos os nossos e pra você um beijo fraternal com as muitas saudades de sua,

Clara

(Mensagem psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier,em reunião pública
Do Grupo Espírita da Prece,em 15/09/1984

Uberaba-MG

(

Clara Francisca  Gonçalves Pinheiro
*12/08/1942 +02/04/1983


Notas:

Maria é sua irmã : Maria Gonçalves (irmã que a criou)
Anestesia:             O que causou o choque anafilático (28 dias de coma)
Paulo :                  seu marido, poeta,compositor Paulo Cesar Pinheiro
Manoel:                 seu pai Manoel Pereira Gonçalves
Amélia :                sua mãe Amélia Nunes
Valdemira:            nome de batismo de sua irmã doente à cama, Branca Gonçalves
filhinho:                 Clara não teve filhos, mas ficou grávida 3 vezes, perdendo todos na gestação.
Cigarra:                Paulo Cesar compôs uma música em homenagem a  terra de Clara fazendo
                              uma analogia ao canto da cigarra:
                            "quando eu canto a morte me percorre e eu solto um canto da garganta
                             e a cigarra quando canta morre, e a madeira quando morre canta"
Processo:            a família de Clara não levou adiante o pedido de investigação de erro médico.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Umbanda, uma religião musical

Orixás, patuás, batuques, rituais – toda uma mistura que funciona e se agrupa como algo definido a partir da diversidade.
A vinda dos negros africanos para o Brasil, somada à já instalada cultura tupi-guarani, ao catolicismo dos brancos e posteriormente ao espiritismo de Kardec fez nascer uma nova religião.
Umbanda - uma combinação de candomblé, santos católicos, comunicação com os espíritos. O tripé da umbanda é formado pela imagem do preto-velho (antigos escravos), do caboclo (índio nativo) e do exu (orixá africano mais ligado ao homem). Eles são responsáveis por comandar os trabalhos ritualísticos e levar ao homem tudo o que ele necessita para se aperfeiçoar moral e espiritualmente.
Canto, palmas, atabaques, agogôs, sinos, adejás - o som produzido nos rituais ajudam o cérebro a alterar sua frequência de ondas, facilitando assim aos médiuns a conexão mediúnica com seus guias. A batida dos atabaques, chamados de “a voz dos orixás”, auxiliam no transe mediúnico alterando o giro dos chakras responsáveis pela incorporação.
A musicalidade umbandista é que marca os pontos para cada momento da gira (reuniões de trabalho na Umbanda. As giras fazem referência ao giro cósmico universal).
 “Atotô Baluaê Atotô é orixá” (trecho de um ponto de saudação a Oxalá)







 A música tem a capacidade de elevar nossos padrões vibratórios e de pensamento ajudando a estabelecer contato com esferas mais elevadas. Vide os padres Fábio de Melo da vida, a música pode também ser usada para atrair fiéis e/ou os manter. Por outro lado, sem tais propósitos, mas que muito ajudaram a difundir a cultura umbandista, artistas como Clara Nunes e Rita Ribeiro (fotos) rearranjaram os cantos da religião e hoje, mesmo quem não aprecie a Umbanda, entusiasma-se com os cantos dos orixás.
 










Foi no começo da década de 70, cantando samba e depois de uma viagem à África, que Clara Nunes começou a fazer sucesso. Na verdade, existem poucos cantores cuja trajetória musical tem tanta religiosidade negra quanto Clara Nunes, que se tornaria uma das melhores cantoras populares de todos os tempos. 
Rachel Rua Baptista Bakke, inclusive, escreveu uma tese de mestrado sobre a religiosidade de Clara Nunes, num trabalho intitulado Tem orixá no samba: Clara Nunes e a presença do candomblé e da umbanda na música popular brasileira. Seguem alguns trechos do trabalho: 

"Pode-se dizer que a viagem à África funcionou como um divisor de águas tanto na vida espiritual quanto na carreira dessa artista. Era o início da consolidação de uma carreira artística fortemente marcada por um estilo e uma imagem que aproximava a cantora do samba e da umbanda, o que a levou a ser rotulada como "Sambista, Cantora de Macumba".”

“Começou assim um processo de construção de uma imagem artística que associava a cantora às tradições culturais afro-brasileiras. Os símbolos utilizados para articular a obra da cantora com o universo cultural afro-brasileiro, e mais tarde brasileiro, foram essencialmente retirados do candomblé e da umbanda, e apareciam nas músicas que cantava, nas suas performances em shows, e nas reportagens de jornais e revistas que, ao divulgarem elementos da vida cotidiana e íntima de Clara, revelavam para um público maior o estilo de vida do povo de santo.”

“Acreditando no esgotamento do estilo afro, com o qual alcançou sucesso, Clara foi pouco a pouco mudando seu repertório, sua forma de aparecer para o público e o discurso sobre seu trabalho. Almejava deixar de ser a "cantora de macumba" e passar a ser reconhecida como uma "cantora popular brasileira".”

Clara Nunes dançando jongo (dança africana), no Morro da Serrinha – RJ (1980).
“Eu sou uma cantora popular brasileira. É uma coisa que eu sempre lutei, sempre almejei na minha vida ser cantora popular. (...) Então eu não posso me situar se eu sou sambista. Eu sou uma cantora autêntica brasileira. (...) Não quero ser rotulada como cantora de macumba. Nunca gravei um ponto verdadeiro. Respeito muito minha religião. (Fonte: www.claraguerreira.hpg.ig/. Consultado em 05/2003)”.


Iniciação na umbanda por Pai Edú-Recife.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010




MÃ E  ÁFRICA  
Fiquei surpreso com a quantidade de terreiros que se dedicam ao candomblé em Porto Alegre e impressionado porque quase todos eles desenvolvem trabalhos voltados às crianças e adolescentes. Cito como exemplo a Associação Clara Nunes situada no Morro da Polícia e vinculada a um desses terreiros. Que maravilha!
Sendo simpático ao candomblé, me alegrei ao constatar o grande número de pais e mães de santo da religião africana na terra de Érico Veríssimo: Cleusa de Oxum, Mãe Maria de Oxum, Mãe Carmen de Oxalá, Pai Aúreo de Ogum, Mãe Vera de Oyá, Babá Diba de Yemanjá, Mãe Norinha de Oxalá, Mãe Gina de Bará, Paulete da Oxum, Mestre Chico de Xangô e Baba Alexandre Gabriel de Xangô. São só alguns exemplos.
Apurei também que em maio de 2008 houve uma festa tão importante dos afro-descendentes no Largo Zumbi dos Palmares que estiveram presentes mais de vinte prefeitos e outras autoridades de Moçambique que vieram se confraternizar com os co-irmãos gaúchos num formidável intercâmbio cultural.
É numa hora dessas que a gente deve se lembrar de Sivuca, um albino que se considerava filho da mãe África, porque ele fez a melodia e Paulo César Pinheiro, por orientação dele, fez a letra de uma das mais belas canções brasileiras:Mãe África. Prestem atenção nos versos iniciais desta música. Que verdades são lançadas na nossa cara!
A melhor gravação que ganhou Mãe África foi a de Clara Nunes, uma filha de santo que teve a “cabeça feita” por pai Edu de Olinda. Digo isso porque em pelo menos duas reportagens publicadas no jornal Folha de São Paulo, de 11/09/1975, e na Revista Amiga, de 20/04/1983, falou-se abertamente que a cantora era filha de santo de Pai Edu, babalorixá do terreiro Palácio de Iemanjá, em Olinda, em cujas paredes são exibidas orgulhosamente fotos do ritual no qual a cantora teria sido consagrada a Oxum no Rio Capibaribe.
A própria Clara Nunes em certa ocasião chegou a dizer: “Sou muito supersticiosa. Não visto preto, não deixo porta de armário aberta, não coloco sapatos em cima do armário e só canto de branco. É uma cor que transmite paz, coisa boa para o público. Dá uma aura legal. Sou também muito mística. Para começar, na minha religião, quando a gente faz a cabeça, assume certas obrigações e deve cumpri-las. Eu sigo tudo à risca. Mesmo as coisas que eu adoro, eu deixo de fazer. Comer doce de abóbora, por exemplo. É comida do meu santo. Eu não posso comer. Não como.”
Não se esqueçam que ela gravou uma música chamada “Homenagem a Olinda, Recife e Pai Edu”. Mas é importante registrar que, quando Paulo César Pinheiro tornou-se produtor musical e marido da estrela, houve o seu completo afastamento do Palácio de Iemanjá. Isto foi consequência do fato de que aquele compositor não era muito chegado à religião da esposa. Está convencido? Não? Então leia mais:
Clara Nunes já era uma cantora de grande reconhecimento nacional e seu casamento com Paulo César Pinheiro foi um acontecimento de grande divulgação pela imprensa. Um dos assuntos mais comentados sobre o evento foi o fato de Clara ter convidado um padre, ao invés de um pai de santo para celebrar a cerimônia. Para piorar, em entrevista, Pai Edu relatou que só ficou sabendo do casamento de Clara Nunes pela Revista Amiga, o que muito lhe chateou, pois, segundo ele, a cantora teria lhe dito que se casaria em seu terreiro. À época, Clara respondeu em uma entrevista concedida ao Jornal Folha de São Paulo, de 11/09/1975, que Pai Edu havia sido envolvido pela imprensa, pois ela nunca lhe prometeu casar no seu terreiro, apenas disse que um dia, quando pudesse, iria lá somente para ser abençoada. O fato é que, após esse episódio, Clara se afastou da casa de Pai Edu e não mais foi encontrado nenhum indício de que ela tenha se ligado diretamente a outro pai de santo ou terreiro, apenas foi constatado o fato de que ia esporadicamente ao terreiro de Vovó Maria Joana Rezadeira, a Tenda Espírita Cabana de Xangô.
Volto ao assunto principal: quando Clara Nunes  interpretava esse tipo de música que lembrava sua religião ou sua ligação com o continente africano, parecia que ganhava uma energia especial vinda já se sabe de onde. Algumas noites do programa Fantástico, da Rede Globo, nos mostraram uma Clara como que em transe ao cantar algumas pérolas musicais dedicadas aos orixás ou à mãe de nós todos.
O acompanhamento musical da gravação de Mãe África foi do próprio autor da música, mestre Sivuca, mais um conjunto de músicos da pesada porque Sivuca não se ligava nessa área com qualquer um.
Agora, sim, fiquem com o misticismo de Clara Nunes cantando Mãe África.
Um axé para todos!
> Clara Nunes, uma cantora de raízes místicas que após o casamento declarou: “não sou cantora de macumba” .
Ouça “Mãe África” (LP Nação, 1982): http://www.luizberto.com/?p=163537

Enviado por Artur Xexéo 14.10.2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

HOJE DIA 12 DE OUTUBRO DE 2010 VAMOS RELER UM TEXTO SOBRE O DESEJO DE CLARA E A SUA CRECHE



Clara Nunes nasceu no dia 12 de agosto de 1942, às 18:00h, em Cedro, distrito de Paraopeba, hoje Caetanópolis, Minas Gerais. Pais: Manoel Pereira de Araújo (conhecido como Mané Serrador, violeiro dos sertões mineiros) e Amélia Gonçalves Nunes. Médico que fez o parto : Dr. Guilherme Mascarenhas Dalle. O registro do nascimento foi feito em 26 de agosto de 1942 com o nome de “Clara Francisca”. Foi batizada na Igreja de Santo Antônio da Comarca de Nossa Senhora do Carmo em Caetanópolis. Padrinhos: Seu primo Arlindo e D. Zita, grande amiga de D. Amélia. Primeira escola: Grupo Escolar Cel. Caetano Mascarenhas Primeira professora: Terezinha do Menino Jesus Com 13 anos, Clara já trabalhava como tecelã na Fábrica Cia. Cedro Cachoeira e logo depois na Fábrica Renascença em Belo Horizonte. Morando em Belo Horizonte, Clara cantava na Igreja Católica do Bairro Renascença, onde o regente da orquestra, Jadir Ambrózio, se interessou por ela e lhe deu a primeira oportunidade de cantar em público. Seu primeiro namorado foi Juarez Álvares (Juju) e entre 17/18 anos Clara namorou com Orlando Barboza, com quem teve um compromisso mais sério. Incentivada pelos conhecidos e familiares, que viam em Clara muito talento e a esperança dela vir a ser uma grande cantora, ela se inscreveu no concurso A Voz de Ouro ABC, o ano era 1960. Na fase regional, em Belo Horizonte, cantando Serenata do Adeus , de Vinícius de Moraes, obtém o primeiro lugar e direito de representar seu estado na final nacional. Em São Paulo, Clara canta Só Deus ,de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, e leva o terceiro lugar para Minas Gerais. Na sua volta a BH ganha uma programa na Rádio Inconfidência – Clara Nunes Convida. Em 1966 Clara estréia no disco pela gravadora Odeon. Nessa época havia um tabu que cantora estreante não deveria gravar música romântica. O disco se chamou A Voz Adorável de Clara Nunes e não fez sucesso. Depoimentos: 1973 "Ainda estou na metade do meu caminho, mas sei que vou até o fim". 1975 "Eu acho que o que há de verdadeiro, o que há de mais puro, o que há de mais sincero e mais espontâneo, que é a força realmente, é o povo. Então, não adianta você querer ir de encontro ao povo, você tem que trazer o povo até você. Então para mim, Clara Nunes, o povo é tudo. Eu hoje sou uma pessoa muito diferente, muito mais consciente e mais feliz." 1979 "Contribuo com a religião gravando-a em minhas músicas, isso ajuda a parte espiritual. Uso branco por que gosto e os colares são minhas guias." 1978 "Só mudaram o nome das chaminés (quando da ida à Belo Horizonte e trabalhando na Fábrica Renascença." 1981 "Hoje a participação do artista dentro da problemática da sociedade é fundamental. O artista tem uma ligação muito maior com o público e é preciso que esta consciência seja despertada; A partir deste pensamento foi fundado o Comitê da Paz na América Latina sediado no Teatro Clara Nunes." 1982 "Eu tenho a grande missão de cantar, eu acho que todas as pessoas tem uma missão, a gente está aqui nesse mundo, ninguém está passeando ou passando férias, está todo mundo aqui cumprindo um compromisso já assumido em outras vidas, eu entendo assim." _________________ Texto recolhido do site Em Minas, escrito pelo jornalista Walter Sebastião Em memória de Clara Nunes Caetanópolis, terra natal da cantora, lança o projeto de um museu para seu acervo Quem chegar à pequena Caetanópolis (MG) 90km de Belo Horizonte e 12 mil habitantes, terra natal de Clara Nunes (1943-1983), procurando informações sobre a cantora vai bater, primeiro, na porta da Creche Clara Nunes, do Centro Espírita Paulo de Tarso, que tem entre seus fundadores a cantora. A casa ampla, com retratos e pinturas da artista em diversas salas, atende a 60 crianças carentes, de zero a seis anos, dos bairros da cidade. É uma homenagem a minha irmã. Clara adorava crianças, conta Maria Gonçalves Dias, a dona Mariquita, a mais velha de uma família de sete irmãos, filhos do violeiro Mané Serrador e de Amélia Nunes, falando com carinho da caçula famosa. É na recepção da creche, sentada diante de um retrato de Clara Nunes com duas crianças, que ela explica que os pais morreram quando a cantora tinha cinco anos, ficando os irmãos mais velhos com a responsabilidade de criar e cuidar dos mais novos. E Deus nos deu a alegria de ter uma irmã que tanta gente admira, conta, explicando, a partir da doutrina espírita, que lutar pelas raízes brasileiras foi a missão da irmã neste mundo. Não se chateia com o fato de, ainda hoje, volta e meia, admiradores da artista baterem na sua porta: Triste seria se ela estivesse esquecida , argumenta, explicando que a idéia de um Museu Clara Nunes (ver box) é antiga. Acervo O acervo da cantora está guardado num quarto ao lado da Creche Clara Nunes. Está ali tudo o que faz as delícias dos fãs: os troféus; os santos os católicos ao lado de entidades de umbanda; vestidos, sapatos, cartazes, lembranças, faixas de rainhas. Ou então uma vitrine inteira de bijuterias, guias e colares exóticos, com destaque para as coroas de conchas, parte da indumentária de mãe-de-santo que a artista deixou na memória de todos. As fotos, por sua vez, informam tanto da trajetória da operária de fábrica têxtil que chegou à fama, como reza o mito, quanto sobre a garota interiorana e elegante que, aos poucos, mergulha nas raízes da cultura brasileira. Desde criança já estávamos acostumados de ver Clara Nunes nos palcos , conta dona Mariquita. Isto é: fazendo graça para as colegas inclusive em carros de som que passavam na rua, nas rodinhas da escola, mais tarde no coral da igreja e nas festas de barriquinha, até chegar aos programas de calouros. Voz de Ouro ABC, em 1960, e terceiro lugar na final nacional do concurso. Daí até as rádios Guarani, Inconfidência, etc. foi um passo. Acrescente-se a atuação como crooner até mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1966, e lançar o primeiro disco. Ela sempre soube que ia ser cantora , conta a irmã, observando o mesmo que todos os que conheceram a cantora. Mesmo já conhecida, Clara Nunes nunca deixou de passar o Natal em Caetanópolis. Ocasião que aproveitava para cantar junto com a folia da terra. É a imagem de foliã que os habitantes adultos de Caetanópolis têm, ainda hoje, da cantora. Dando ares de lenda à vida e obra de Clara Nunes, veio a morte, em 1983, depois de 27 dias de coma, no auge da fama, vítima de um choque anafilático, durante uma operação de varizes. Clara viveu pouco e deixou uma história, observa dona Mariquita. Ela não cantava por cantar, era dom de Deus, era compromisso espiritual de mostrar as raízes do Brasil que ela tanto amou. Isso a pessoa traz de outras vidas , garante a irmã da artista. Operária da música A obra de Clara Nunes está em 16 discos todos raros no mercado o que se pode encontrar são antologias. Eles traçam uma história: da jovem talentosa e elegante, em busca de caminho pessoal até o nascimento de uma diva da canção popular brasileira. Ou melhor até transformar-se em operária da música popular brasileira , como ela gostava de dizer. No início foram boleros, versões e sambas-canções; depois, sambas clássicos, alguns compostos especialmente para ela, como Morena de Angola, de Chico Buarque, ou Guerreira, de João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro. Estamos apenas começando a descobrir Clara Nunes. É um trabalho que tem consistência, em quantidade e em qualidade. Tudo é atualíssimo e vai ser sempre assim , afirma Paulo César Pinheiro, compositor, que foi casado com a cantora. Aponta um problema: Falta botar os discos dela na rua, tocar mais no rádio, relançar a caixa com todos os discos. É um trabalho que cabe à gravadora. Considera que são bases da música popular, importantes para quem está começando não só como repertório mas pela força do canto, que transmite verdade, sentimento, autenticidade. Clara Nunes, como conta Paulo César Pinheiro, tem feito uma falta imensa para os compositores de samba: Não é só a beleza do canto, ela lançava compositores, explica. Importante: ele brinca que a canção, Guerreira, é um auto-retrato dela feito por ele. Canto cheio de promessa Muita gente se lembra de que Elizeth Cardoso disse que a mineira seria a sua sucessora. Um bom exemplo desta atitude de reverência para com Clara Nunes, vinda dos autores veteranos, é a opinião de Cauby Peixoto sobre a artista: Ela foi uma das artistas mais amadas do Brasil e uma das mais queridas pelos colegas. É uma moça que conseguiu o que poucos conseguiram: ser amiga da difícil Elis Regina. Tinha uma voz linda. Conheci Clara Nunes quando ela ainda estava começando, em Minas Gerais, e tive certeza que seria uma grande artista. É daquelas pessoas que já nasceu cantando bem . A guerreira também recebe elogios dos novíssimos como a cantora paulista Mônica Salmaso, que, gravou Ilu-Aye, de Cabana e Norival Reis, vinda do repertório de Clara Nunes. Ela tinha uma dignidade na postura de cantar a cultura popular que é impressionante. Seu canto tem ares de louvação das raízes brasileiras. A voz é lindíssima, a atitude louvável e a figura linda, analisa. Clara tinha uma característica dos grandes artistas: tornava-se co-autora , observa. O museu O projeto do Museu Clara Nunes vai ser lançado amanhã, às 10h, na Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Na programação do evento, show de Eleny Galvan, que lançou CD em homenagem à cantora. A iniciativa vem da Secretaria de Estado da Cultura e da família da cantora. Prevê a transformação de um antigo cinema de Caetanópolis (MG), doado para a prefeitura da cidade este ano pela Cedro Cachoeira, numa sala de exposição que vai ter ainda um pequeno teatro. O projeto arquitetônico é de Paula Aragão, com assessoria do Iepha, e o projeto museográfico, de Paulo Rossi. Orçado em R$ 300 mil, depende de captação de recursos, via leis de incentivo à cultura para ser implantado. Neste sentido está sendo articulada a criação da Sociedade de Amigos do Museu Clara Nunes. Este texto não acaba aqui. Sua personagem se perpetua..."


O MEMORIAL JÁ É UMA REALIDADE.
A CRECHE CLARA NUNES AINDA ENCONTRA DIFICULDADES,ATÉ HOJE!
O DESEJO DE CLARA DE SER MÃE E NÃO REALIZADO SE REPORTA À ESSE MARAVILHOSO TRABALHO DE DEDICAÇÃO DE MARIA GONÇALVES-A MARIQUITA.ABNEGADA,PERMANECE NA MISSÃO DE CONTINUIDADE DO TÃO GRANDE SONHO DE CLARA :ABRIGAR E AMAR CRIANÇAS ALHEIAS COMO SE FOSSEM SUAS!
O TRABALHO ARTESANAL É PRIMOROSO E O TRATAMENTO, MAIS DO QUE HUMANO.
QUEM QUISER CONTRIBUIR OU VISITAR ESTARÁ COMPACTUANDO COM O DESEJO DE CLARA E A ALEGRIA DA FAMÍLIA.


RUA CEL.VICTOR MASCARENHAS,246-CENTRO/CAETANÓPOLIS-MG
CEP.:35770-000

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010


A letra brasileira de Paulo César Pinheiro
Por Daniel Brazil - 22/06/2009

Para muita gente, Paulo César Pinheiro é o maior letrista do Brasil. Suas mais de 2 mil letras produzidas, com um alto nível assombroso, são suficientes para torná-lo um caso especial da música popular brasileira. Para encarar essa tarefa monumental a jornalista Conceição Campos (foto) empenhou dez anos de trabalho. Vasculhou, catalogou, entrevistou dezenas de pessoas, conviveu com os amigos, percorreu os caminhos, freqüentou os ambientes que marcaram a vida e obra do poeta. E construiu um livro envolvente, narrado com minúcias, cujo estilo se harmoniza com o de seu biografado de maneira inteligente e saborosa.
A Revista Música Brasileira conversou com Conceição sobre o livro, que está sendo lançado em todo o Brasil (A Letra Brasileira de Paulo César Pinheiro, Casa da Palavra, 2009).

RMB - Quando e como surgiu a idéia do livro?
CC - Esse livro começou a se consolidar realmente a partir de 2007, quando consegui o patrocínio da Petrobras, que permitiu que eu me dedicasse exclusivamente a escrevê-lo. Mas a idéia – e o trabalho em torno dessa idéia – nasceu há mais de dez anos quando eu fui apresentada a Paulo César Pinheiro pelo bandolinista Pedro Amorim – parceiro dele com quem eu tinha acabado de me casar. A partir desse contato, eu fui identificando uma forte ligação entre muitas de suas letras – que até então eu não sabia de quem eram – e várias etapas da minha vida. Um tipo de relação ao mesmo tempo íntima e anônima que, depois eu constatei, se estabelece repetidamente entre os versos dos letristas e as histórias cotidianas de seus desavisados ouvintes. Desde o belo tema Pedrinho, do Sítio do Picapau Amarelo, (dele com Dori Caymmi) que eu ouvia menina, lá em Belém, até Saudades da Guanabara (com Aldir Blanc e Moacyr Luz), que eu acabara de usar como hino nos meses difíceis vividos em São Paulo. A lista era interminável. Passava por Pesadelo (dele com Maurício Tapajós) que meu pai-militante ouvia na época da ditadura, por Quaquaraquaquá e Cai dentro (dele com Baden Powell) na voz de Elis Regina, porMenino-Deus e O Canto das três raças (dele com Mauro Duarte) nas gravações antológicas de Clara Nunes, enfim a descoberta era essa: a trilha sonora de todos os meus endereços tinha sido conduzida pelas palavras de Paulo César Pinheiro sem que eu tivesse consciência disso.

RMB - Ao fazer uma leitura cronológica, é possível distinguir fases na obra de Paulo César Pinheiro? Qual a que deu mais trabalho?                                                                                                                         
CC – Ele tem fases de interesses que sempre voltam, tanto na música quanto na literatura. Eu diria que, como letrista, Paulo César Pinheiro já nasceu maduro (isso está demonstrado logo em Viagem, escrita por ele aos 13 anos). Só no seu primeiro livro de poemas (Canto brasileiro, 1976) ainda se percebe a busca por uma linguagem própria, logo amadurecida nos livros seguintes. Décadas mais tarde, ao escrever os belos poemas do livro Atabaques, violas e bambus, Paulo César Pinheiro mergulhou de forma tão certeira naquele universo africano e indígena, que a Luciana (Rabello, sua esposa) brincava dizendo que ele estava incorporado. Eu poderia até dizer que, por conta do vocabulário muito específico, essa fase “deu trabalho”, mas era uma dificuldade instigante e logo superada pelo ritmo que vinha junto, o encadeamento dos versos. Então o prazer da leitura se estabelecia de imediato. A sua poesia é muito rica de música, e vice-versa.
RMB - É comum lermos biografias de compositores com a obra acabada, consolidada. Paulinho não pára de compor, até hoje. Imagino que enquanto você escrevia o livro, ele deve ter acrescentado mais algumas dúzias de composições ao acervo. Isso não é meio desanimador para quem quer analisar um conjunto de obras?                                                                                                                                                                                                                                           
CC - É e não é. Quando eu disse a ele, em 1995, que queria escrever um livro sobre a sua obra, ele sorriu me prevenindo: É muita coisa...Em pouco tempo, perdida entre as estantes empoeiradas de lojas de vinil, discotecas de rádios (a Rádio Nacional no Rio, a Rádio Cultura de São Paulo) e inúmeras discotecas particulares, eu entendi exatamente do que é que ele estava falando. Era muita coisa mesmo. No livro estão contabilizadas mais de duas mil letras feitas com mais de 100 parceiros, metade das quais gravadas por mais de 500 intérpretes, desde Elis Regina, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Nana Caymmi, MPB-4, Roberto Ribeiro, Amélia Rabello, Paulinho da Viola, Elba Ramalho, até Renato Braz, Mônica Salmaso. É uma lista interminável, porque está sempre crescendo. Tenho orgulho de ter enfrentado esse desafio porque o resultado de todo esse esforço diz para o leitor com toda clareza: há muita coisa boa sendo continuamente criada e, no meio desse oceano musical brasileiro, a arte de Paulo César Pinheiro tem sido um farol poderoso.

capa do livro