Sabiá...Até um dia!

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sábado, 17 de setembro de 2011

Martinho da Vila: Samba lá que eu sambo cá






Rio - Estive em Paris onde fui gravar com a cantora
Nana Mouscouri, conhecida como a primeira dama
da música francesa. Também viajei para fazer um
pré-lançamento do meu livro ‘Romance Fluminense’ 
na língua deles. Por lá, muita gente já sabe que a
Unidos de Vila Isabel vai cantar Angola no próximo
Carnaval. 


A primeira vez que estive na África, a maioria 
dos países ainda era colônia. Em 1980 voltei
a Luanda, ainda em tempo de guerra civil, mas
com Lobito e Benguela sobre controle. Entretanto
havia o toque de recolher e eventos que reuniam 
muita gente estavam proibidos, mas o governo
resolveu realizar um grande acontecimento musical
e, comandados pelo Fernando Faro, o Baixinho, 
saiu do Brasil um avião da TAAG lotado, levando
uma caravana de artistas solidários com aquele
país irmão. Sem receber nenhum cachê, capitaneados
pelo Chico Buarque de Hollanda, foram as irmãs
Miúcha, Cristina e Pií, assim como Olívia Hime,
Vanda Sá, Francis Hime, Edu Lobo, Noveli e o
novato Djavan. Eu indiquei o João Nogueira, 
Clara Nunes, Dona Ivone Lara, João do Vale e
o Conjunto Nosso Samba. O Baixinho convidou
a Elba Ramalho, o Quinteto Violado e o Dorival
Caymmi, além de músicos que me fugiram da 
memória e outras pessoas, como o radialista 
Fernando Mansur, hoje na MPB FM. A tônica do
espetáculo foi o samba, mas os shows terminavam 
com todos os artistas no palco cantando o Cio 
da Terra, do Chico e do Milton Nascimento. O 
evento foi batizado como Projeto Calunga e até
hoje é citado como o maior espetáculo musical
ocorrido em Angola.A Vila vai abordar este 
acontecimento no seu desfile. É o “Samba Lá”,
do tema. Voltei a Luanda em 1982 e fui 
encarregado de liderar uma caravana trazendo
um grupo de artistas angolanos ao Brasil.
Vieram com O Canto Livre de Angola, em
janeiro de 1983, os artistas Paulo Kaita, 
Dionízio Rocha, Filipe Mukenga, Carlos Buriti,
André Mingas, Robertinho, Elias Dia Kimuezo,
Joi Artur, Pedrito, Carlitos Dias, Dina Santos, 
Os Kituxis com os percussionistas Joãozinho,
Candinho e Zé Fininho, além do saudoso Mestre
Geraldo e os músicos do grupo Semba Tropical.
Eu dirigi o emocionante Canto Livre, na Sala
Cecília Meireles, cedida graças à ajuda do
professor Arnaldo Niskier. Foi a primeira vez
que veio ao Brasil um grupo de artistas
africanos e também pela vez primeira se 
ouviu um samba ao vivo, no Rio, na Bahia
e em São Paulo. É o “Semba Cá” que 
mostraremos no Carnaval em contraponto 
com o Projeto Kalunga, o “Samba Lá”. 
Eu gostaria muito de fazer o samba 
enredo, mas não fiz porque com a Vila
cantando Angola, direta ou indiretamente,
eu estou dentro do tema. Melhor assim,
pois a nossa Ala de Compositores 
produziu uma bela safra de bons sambas.
Alguns já foram eliminados do concurso,
mas a Família Ferreira, com Mart’nália, 
Tunico e Raoni, em colaboração com 
seus parceiros, está firme na disputa e 
eu creio que os sambas deles serão finalistas. 
Que vença o melhor!