Sabiá...Até um dia!

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Espiritualidade no cinema atrai o público


Publicado em 13/11/10 às 18h25
por Alysson Oliveira
“O público está muito interessado em filmes que falem da espiritualidade”, constata a documentarista Cristiana Grumbach (na foto, realizando uma entrevista), que acaba de lançar seu segundo longa, As cartas psicografadas por Chico Xavier. Apesar do sucesso do Tropa de Elite 2a diretora acredita que, no ano do centenário do médium mais famoso do Brasil, essa temática está mais forte do que nunca – prova disso são os sucessos Chico Xavier e Nosso Lar.
“Vivemos no maior país espírita do mundo, embora nem sempre isso esteja nos dados. Uma peculiaridade do brasileiro é, além de manter a sua religião, transitar pelas outras. Há uma grande curiosidade e interesse das pessoas em questionar esse tipo de tema”, explica a documentarista que começou a trabalhar no seu longa em 2004, quando sentiu curiosidade de saber como seria receber uma carta de seu avô, de quem foi muito próxima.
Antes de fazer o filme, Cristiana se considerava uma pessoa cética. Talvez, agora , sua posição tenha mudado. “Não sei, o espiritismo é um assunto que me interessa. Eu me questionava sobre qual seria o sentimento de receber uma carta de quem já morreu. Como isso deve mudar a vida de uma pessoa?”. Com essa ideia em mente, a diretora foi atrás de personagens que podiam lhe contar sobre suas experiências.
Ao final, ficaram no filme oito famílias que lhe relataram suas experiências. “Eu me concentrei nas histórias de mães e pais por terem maior força e porque o Chico [Xavier] também dava mais atenção a eles. Achei que devia manter essa espécie de fidelidade ao trabalho dele”. Diferentemente de seu primeiro longa, Morro da Conceição, Cristiana diz não querer traçar o perfil de seus entrevistados, saber de sua vida pregressa ou algo assim. “A ideia era concentrar na carta, na relação dessas pessoas com a correspondência que receberam de seus filhos mortos”.
Cristiana não chegou a conhecer Chico Xavier, mas um amigo que esteve em Uberaba acompanhou algumas sessões de psicografia. Quando ele lhe contou sobre a experiência, instigou ainda mais a curiosidade da documentarista. Para encontrar seus entrevistados, ela contou com a ajuda de pessoas ligadas a centros espíritas e estudos sobre a vida e obra de Chico Xavier.
A versão que chega aos cinemas de As cartas psicografadas por Chico Xavier é 20 minutos mais curta do que aquela apresentada em festivais, entre eles em Paulínia, em julho passado. “Foi uma decisão muito difícil, inclusive porque a pessoa que ficou de fora tinha uma expectativa com o filme. Mas tive de excluir aquela que tinha o menor depoimento e a maior carta lida em voz alta.”
Aprendizagem com Coutinho
Além de fazer Morro da Conceição, Cristiana trabalha há muitos anos com Eduardo Coutinho, considerado um dos maiores documentaristas do país. Para ela, essa experiência a ajudou a entender como buscar a dimensão humana dos entrevistados. “Não me interessa provocar sensacionalismo com as pessoas. E eu percebo que, diante das câmeras, o entrevistado tenta dar o melhor de si”.
Ela conta que, para deixá-los confortáveis e seguros, tenta criar um ambiente discreto e com pouca parafernália. “Minha equipe é muito enxuta, não usamos um monte de equipamentos, luzes, câmeras. Tento fazer com que aquela situação [a entrevista] se torne algo mais ou menos comum para o entrevistado. Sempre começo conversando sobre assuntos menos importantes, para tentarmos estabelecer uma relação”.
Além de lançar As cartas psicografadas por Chico Xavier, Cristiana toca outros projetos – entre eles, um documentário sobre médiuns. “Quero acompanhar a vida dessas pessoas, compreender como se dá essa mediação.” Além deste, a documentarista planeja um filme sobre a cantora Clara Nunes, morta em 1983. “Está muito embrionário ainda. Tive uma conversa muito rápida com [o compositor e viúvo da artista] Paulo César Pinheiro. Ainda precisamos conversar bastante sobre a possibilidade de fazer esse filme. Penso numa combinação entre documentário e ficção. Queria ter uma atriz ao meu lado e juntas revivermos a trajetória de Clara Nunes”.