Sabiá...Até um dia!

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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Diretora celebra filme sobre Clara Nunes: "Nosso caldeirão mestiço"






Diretora celebra filme sobre Clara Nunes: "Nosso caldeirão mestiço"

Longa conta a trajetória da cantora, que morreu aos 40 anos, em 1983

Clara Nunes foi uma das cantoras mais importantes do Brasil. Apesar de ter morrido precocemente aos 40 anos, em 1983, a voz multicultural de Clara segue inovadora.
Mesmo assim, não existia até então um documentário sobre a intérprete. Pensando nisso, Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir fizeram Clara Estrela, em parceria com o canal de TV independente Curta!

Reportagem do Jornal O GLOBO de 08 de outubro de 2017 na coluna ELA



Clara Estrela,O Filme


Clara Estrela
Clara Nunes merece a homenagem e muito mais
por Filippo Pitanga
09 de outubro de 2017
Mesmo que o presente documentário “Clara Nunes” de Suzanna Lira siga mais as raias da linguagem tradicional, qualquer filme que se debruce e pesquise sobre a inesquecível artista Clara Nunes merece atenção, com duas horas de projeção contendo performances lindas e debates sobre as origens e estudos da arte com que ela mergulhou nas raízes brasileiras. Grande precursora da inserção de cultura baiana nas músicas populares brasileiras, momento de vida a partir do qual a cantora passou a estudar os orixás e musicalidades de herança africana, Clara Nunes fez de tudo um pouco. Até teatro fundou. E, hoje, muito pouca gente sequer se lembra os motivos do falecimento repentino senão as polêmicas que envolveram as verdadeiras razões, eclipsando a magnitude da obra dela em troca de sensacionalismos.
E de fato o filme se debruça sobre algumas destas controvérsias, mesmo que não necessariamente seja o foco. Assim como “Cauby – Começaria tudo outra vez” de Nelson Hoineff, Suzanna aqui também prefere deixar as canções, letras e, principalmente as performances dizerem mais sobre quem era a artista do que outras pessoas que não ela mesma. A única exceção para esse olhar de fora são algumas entrevistas, como o revelador dossiê que Clara prestou a Maria Gabriela, e a escolha da atriz Dira Paes como narradora de trechos deixados pela própria Clara, ou ficcionalizados a partir de momentos que ela viveu. Apesar da narração de Dira, ainda há momentos em que gravações da própria cantora falando sobre sua vida se inserem no meio da narrativa, o que pode deixar os menos avisados um pouco confusos sobre qual voz estaria sendo ouvida agora, ainda que possa ter sido justamente a intenção da diretora com o treino vocal de Dira.
Personalidade fascinante, as performances escolhidas a dedo para figurar na projeção de fato nos lembram de quanta herança devemos à cantora, ao mesmo tempo que reassociam algumas letras à sua voz definitiva após tantas interpretações que viriam a ganhar posteriormente. Sobre as polêmicas, de certa forma são apenas tangenciadas, como a dificuldade de ter filhos e os trágicos abortos naturais que ela sofreu, chegando a ter assumido que apelou para os orixás lhe ajudarem nesta barreira de vida. Acabou que seu falecimento transcorreu de uma complicação de uma cirurgia simples, por aparente alergia à anestesia, mas que foi confabulada na época por inúmeras teorias loucas, injustiça que afastava seu nome exclusivamente de sua arte que agora o presente documentário vem mais uma vez resgatar para as novas gerações.