Sabiá...Até um dia!

Sabiá...Até um dia!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Umbanda, uma religião musical

Orixás, patuás, batuques, rituais – toda uma mistura que funciona e se agrupa como algo definido a partir da diversidade.
A vinda dos negros africanos para o Brasil, somada à já instalada cultura tupi-guarani, ao catolicismo dos brancos e posteriormente ao espiritismo de Kardec fez nascer uma nova religião.
Umbanda - uma combinação de candomblé, santos católicos, comunicação com os espíritos. O tripé da umbanda é formado pela imagem do preto-velho (antigos escravos), do caboclo (índio nativo) e do exu (orixá africano mais ligado ao homem). Eles são responsáveis por comandar os trabalhos ritualísticos e levar ao homem tudo o que ele necessita para se aperfeiçoar moral e espiritualmente.
Canto, palmas, atabaques, agogôs, sinos, adejás - o som produzido nos rituais ajudam o cérebro a alterar sua frequência de ondas, facilitando assim aos médiuns a conexão mediúnica com seus guias. A batida dos atabaques, chamados de “a voz dos orixás”, auxiliam no transe mediúnico alterando o giro dos chakras responsáveis pela incorporação.
A musicalidade umbandista é que marca os pontos para cada momento da gira (reuniões de trabalho na Umbanda. As giras fazem referência ao giro cósmico universal).
 “Atotô Baluaê Atotô é orixá” (trecho de um ponto de saudação a Oxalá)







 A música tem a capacidade de elevar nossos padrões vibratórios e de pensamento ajudando a estabelecer contato com esferas mais elevadas. Vide os padres Fábio de Melo da vida, a música pode também ser usada para atrair fiéis e/ou os manter. Por outro lado, sem tais propósitos, mas que muito ajudaram a difundir a cultura umbandista, artistas como Clara Nunes e Rita Ribeiro (fotos) rearranjaram os cantos da religião e hoje, mesmo quem não aprecie a Umbanda, entusiasma-se com os cantos dos orixás.
 










Foi no começo da década de 70, cantando samba e depois de uma viagem à África, que Clara Nunes começou a fazer sucesso. Na verdade, existem poucos cantores cuja trajetória musical tem tanta religiosidade negra quanto Clara Nunes, que se tornaria uma das melhores cantoras populares de todos os tempos. 
Rachel Rua Baptista Bakke, inclusive, escreveu uma tese de mestrado sobre a religiosidade de Clara Nunes, num trabalho intitulado Tem orixá no samba: Clara Nunes e a presença do candomblé e da umbanda na música popular brasileira. Seguem alguns trechos do trabalho: 

"Pode-se dizer que a viagem à África funcionou como um divisor de águas tanto na vida espiritual quanto na carreira dessa artista. Era o início da consolidação de uma carreira artística fortemente marcada por um estilo e uma imagem que aproximava a cantora do samba e da umbanda, o que a levou a ser rotulada como "Sambista, Cantora de Macumba".”

“Começou assim um processo de construção de uma imagem artística que associava a cantora às tradições culturais afro-brasileiras. Os símbolos utilizados para articular a obra da cantora com o universo cultural afro-brasileiro, e mais tarde brasileiro, foram essencialmente retirados do candomblé e da umbanda, e apareciam nas músicas que cantava, nas suas performances em shows, e nas reportagens de jornais e revistas que, ao divulgarem elementos da vida cotidiana e íntima de Clara, revelavam para um público maior o estilo de vida do povo de santo.”

“Acreditando no esgotamento do estilo afro, com o qual alcançou sucesso, Clara foi pouco a pouco mudando seu repertório, sua forma de aparecer para o público e o discurso sobre seu trabalho. Almejava deixar de ser a "cantora de macumba" e passar a ser reconhecida como uma "cantora popular brasileira".”

Clara Nunes dançando jongo (dança africana), no Morro da Serrinha – RJ (1980).
“Eu sou uma cantora popular brasileira. É uma coisa que eu sempre lutei, sempre almejei na minha vida ser cantora popular. (...) Então eu não posso me situar se eu sou sambista. Eu sou uma cantora autêntica brasileira. (...) Não quero ser rotulada como cantora de macumba. Nunca gravei um ponto verdadeiro. Respeito muito minha religião. (Fonte: www.claraguerreira.hpg.ig/. Consultado em 05/2003)”.


Iniciação na umbanda por Pai Edú-Recife.