Sabiá...Até um dia!

Sabiá...Até um dia!

terça-feira, 2 de abril de 2013


Com emoção agradeço à MARIENE DE CASTRO pelo grande carinho!
Sucesso sempre,minha amiga!

30 anos Sem CLARA NUNES!


Há 30 anos atrás, num dia 2 de abril de 1983, nós brasileiros, perdíamos a maior expressão da nossa música popular brasileira: Clara Nunes.
Estava na casa de minha tia, quando uma de minhas primas a Maninha, chegou e me disse: morreu Clara Nunes! Aquela dor, era uma dor idêntica a dor sentida por um ente-querido, um consangüíneo nosso, que parte assim, sem dizer adeus!
A matriz africana, vivenciada e explicitada de forma nobre por Clara Nunes , foi sem sombra o maior afago à cosmovisão africana no Brasil, que já tivemos no cenário musical . Clara Nunes mostrou ao mundo o quanto é bonito ser negro. O quanto o sangue negro misturou-se ao mosaico cultural e deixou o Brasil um povo que sobrevive as adversidades cantando, mesmo que seja de dor! Mestiça, Clara ficou a vontade com seus cabelos crespos, suas roupas de religião, seus colares de contas e seus pés nus e muito bronzeamento para sua cor morena se tornar negra.
Esse resgate de identidade negra, somou-se a uma voz perfeita na entonação de cultura afro-brasileira, com expressões e mapeamentos musicais de resgate desta identidade, e foram despencando no cenário musical brasileiro jongos, maracatus, frevos, congadas, sambas de enredo, samba canção, toadas, toques de candomblé, folclore e muita fé no que fazia. Isso fez a auto-estima do povo negro, discriminado na sua cultura, subir e eleger Clara Nunes a nossa maior cantora, isso no Brasil negro, que a consagrou nas vendagens de discos. Clara se tornou um fenômeno, o mesmo povo que ela acarinhava com suas canções, era quem fazia dela uma rainha. O outro Brasil não negro,racista, discriminador, abastado, das elites, é óbvio escolhera outra cantora para representá-lo, mas teve que render-se ao talento da cantora caipira, vinda do interior e que em plena ditadura militar entoava cantos de louvor e hinos de luta como Canto das três raças.
O congraçamento das etnias brasileiras, e o sonho de equidade social, se manifestavam na cantora, quando sem esquecer suas origens, ia em busca dos compositores populares e se a música não arrepiasse, e não tocasse primeiro seu coração, ela não gravava. Seguia os referenciais do povo entre morros, terreiros,Continente Africano e o mundo afora, na busca do popular sem ser popularesca. 
Furava o bloqueio masculino e tornou-se um fenômeno de vendas. Vendia milhões de discos. No país do carnaval, nunca Clara teve em vida um especial na maior TV brasileira. Levou essa mágoa para a eternidade. Essa invisibilidade da representante autêntica do povo brasileiro, só foi sacudida pela morte prematura da artista. E dai? Daí que depois que Clara morreu, mais uma vez o mundo do poder, não negro, voltou-se para lágrima e dor do povo brasileiro, mais como manchete da confusão do enterro que reuniu mais de 50.000 pessoas no Rio de Janeiro, do que verdadeiro respeito pela artista,pela mulher de fibra, determinada,que nunca traiu seus princípios do cantar como missão, em forma de oração, lenitivo necessário para revelar a face de um povo, sua leveza, de rara beleza, e fé na sua grandeza.Não era atoa, o apelido de Sabia, quantas vezes observamos esse pássaro a cantar, com sol ou chuva lá está ele. Clara realmente, pássaro cantante. 
Texto de Baba Xandeco - SC





Se alguém falasse pra Clara Nunes que 30 anos depois de sua morte, ela seria homenageada e lembrada com amor e devoção, certamente ela sorrisse e passasse a deferência pra Elis Reginaou Eliseth Cardoso. Era assim, a personificação da simplicidade e sem vaidade. Hoje considerada uma Orixá e amada por mais pessoas de quando era viva, estaria no trono de defensora da verdadeira cultura popular, aquela nascida nos morros, favelas,cidades do interior, feita por gente simples e inteligente. Daria voz aos novos compositores e defenderia o samba com muita garra,paixão e emoção. Morta é um tapa na cara das sem talento, viva constrangeria as pré fabricadas. Talvez não lançasse mais suas músicas no Fantástico, mas lotaria teatros e ginásios em seus shows. Seu sorriso seria esperado no desfile da Portela como símbolo de devoção a causa azul e branca. Mas como diz o samba enredo Contos de Areia - " Na ginga do estandarte Portela derrama arte neste enredo sem igual, faz da vida poesia e mostra sua alegria em tempo de Carnaval", sua lembrança nos dá a certeza que um dia uma sabiá cantou pelo mundo e foi morar na constelação dos Orixás. Minha singela homenagem àquela que soube cantar como poucos e nunca desafinou nem fugiu ao desafio de provar que a verdadeira missão do artista é servir seu povo e sua arte. Dói sua ausência,mas é reconfortante saber que não está dividindo espaço com quem não tem talento. Clara mesmo depois de morta canta melhor que muita gente viva.


Texto de HEITOR SILVA - São João Del Rei