Sabiá...Até um dia!

Sabiá...Até um dia!

segunda-feira, 28 de março de 2011



Documentário e livro resgatam um importante movimento musical que aconteceu no Teatro Opinião/RJ de 71 a 84, apresentando pela 1ª vez com assiduidade, na zona sul carioca, compositores dos morros e da periferia como Cartola, Ismael Silva, Silas de Oliveira e outros de igual virtuose. Revelou artistas como Paulinho da Viola, Clara Nunes, Martinho da Vila, Beth Carvalho, D.Ivone Lara e tantos
outros. Email: noitadadesamba@gmail.com




“ O mundo inteiro estava de pernas pro ar naquele ano de 1971. Em maio, 500 mil pessoas se concentraram em frente à Casa Branca para protestar contra a Guerra do Vietnã. Pela primeira vez, a sociedade levantava a voz contra o morticínio que dizimou os sonhos e as vidas de quase três milhões de jovens norte-americanos. Dois anos depois, Richard Nixon anunciou a suspensão das operações ofensivas dos EUA na Ásia.”

Texto extraído do livro “Noitada de Samba – Foco de Resistência”, texto de Marcia Guimarães


 “A Marcha de Quarta Feira de Cinzas, de Carlinhos Lyra e Vinicius de Morais, gravada por Jorge Goulart em 1963 renascia em 1971, de quinta a domingo, no Teatro Opinião, com a montagem do show “E no Entanto é Preciso Cantar”, produção de Coutinho e Bayer marcando a passagem dos sete anos do antológico show que levara o nome do Teatro: Opinião. E como se cantou, naquele ano, na imortal “Festa para um Rei Negro”, o refrão inesquecível que Zuzuca criara para o samba-enredo do Salgueiro: “Olé-lê, ola-lá/ pega no ganzê/pega no ganzá...”

Extraído do livro “Noitada de Samba – Foco de Resistência”, texto de Marcia Guimarães


“Eram tempos de sussurros, de cortes velados, de sobrevivência a qualquer preço. Rafael de Carvalho, ator, escritor e repentista de voz possante, que em 66 se destacara em Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, de Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, tinha sido preso no temível Cenimar, Centro de Informações da Marinha, considerado o mais eficiente órgão de informações militares durante a ditadura. Tempos depois, Bayer, Vereza, Fábio Sabag e Gugu Olimecha – presidente do Sindicato dos Artistas - foram tirá-lo da prisão Sem trabalho, o ator arranjou uma kombi e passou a viver de frete para defender algum dinheiro. A ordem era “se virar”.

Extraído do livro “Noitada de Samba – Foco de Resistência”, texto de Marcia Guimarães


“1971 - O ano começara com um urra! de vitória dos guerrilheiros da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que em dezembro de 1970 haviam sequestrado o embaixador suíço Giovanni Enrico Bücher. Finalmente, em janeiro de 1971, após 40 dias de negociações tensas, o Governo Militar engoliu a libertação de 70 presos políticos confinados no Presídio da Ilha das Flores. Mas a derrota imposta pelos jovens da VPR seria cobrado, com juros e correção monetária, em sangue e barbárie. No dia 13 de janeiro de 1971, o general Emilio Garrastazu Médici assinou o decreto de banimento de 68 brasileiros, dentre eles Frei Tito, dominicano acusado de ligações com os terroristas e barbaramente torturado pelo delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury.”

Extraído do livro “Noitada de Samba – Foco de Resistência”, texto de Marcia Guimarães



“O dia 1º de novembro de 1971 amanheceu nublado. Nuvens pesadas escureciam o céu e anunciavam chuva grossa. No Morro da Mangueira, Antenor de Oliveira balançou a cabeça, cheio de maus presságios. Ia ser um aguaceiro só. E ainda por cima, véspera de Finados. “Isso não vai dar certo!” resmungou Cartola, mal-humorado e cheio de preguiça, metido num pijama azul. D. Zica assuntou a umidade do ar, mas não se deu por achada. Tinha muito que fazer. O pessoal do Teatro prometera buscá-la e ao panelão de xinxim de galinha, para a estréia de um novo show em Copacabana.”


Extraído do livro “Noitada de Samba – Foco de Resistência”, texto de Marcia Guimarães

Imagem: Cartaz original do espetáculo, na época denominado Zicartola nº2