Sabiá...Até um dia!

Sabiá...Até um dia!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

VI MÉRITO RADIOFÔNICO CLARA NUNES



O Jornal E agora? da vizinha cidade de Curvelo promoveu no dia 12 de agosto, no Curvelo Clube, o VI Mérito Radiofônico Clara Nunes, uma premiação conferida anualmente aos profissionais em rádio, jornal, televisão, mídia eletrônica, músicos, empresários, comerciantes, anunciantes e personalidades que contribuem com a área da Comunicação Social da região Centro-Norte de Minas.
O Mérito Radiofônico foi idealizado pelo jornalista Geraldo Magela de Abreu, redator e diretor do Jornal E agora? e contempla as seguintes categorias: colaborador, colaborador institucional, jornalista, radialista, colunista em jornal, cantor, agência de publicidade, designer gráfico, publicitário, homenagem póstuma e especial, empresas anunciante. O Mérito Radiofônico este ano homenageou a cantora Clara Nunes, que morreu em 1983, e se fosse viva no dia 12 de agosto, data do evento faria 69 anos. O patrono do VI Mérito Radiofônico foi o deputado federal Gabriel Guimarães. 63 pessoas de Curvelo e região foram contemplados com o prêmio.
Eu, Meiry Fonseca, editora do Jornal O Panorama tive a honra de receber o prêmio, no dia 12 de agosto, no Curvelo Clube, na categoria Jornalista. Eu e os demais contemplados tivemos o prazer de sermos homenageados em uma brilhante festa. Aproveito a oportunidade para agradecer de público ao jornalista Geraldo Magela e a AMEV pela indicação, a comunidade de Curvelo pelo carinho e acolhida, a Gislene Alonso e Maria Geralda Rodrigues da Silva colaboradoras do Jornal O Panorama que me acompanharam no evento, e a todos de forma geral pela lembrança.
Para nós homenageados é até difícil falarmos do prêmio, mas o patrono Gabriel Guimarães foi muito feliz em suas palavras e resumiu bem o Mérito Radiofônico, ele disse: “O VI Mérito Radiofônico Clara Nunes homenageia pessoas muito especiais que contribuem no seu dia a dia para a construção de uma sociedade melhor, de uma cidade mais humana, mais desenvolvida e estruturada. Além de toda a sua importância social, o mérito ainda presta uma grande homenagem à Clara Nunes, uma mulher viva na história da música brasileira. Na história desta artista de primeira grandeza, o Prêmio homenageia todas as mulheres que vêm conquistando seus espaços na vida cultural, política e econômica do país.”

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Destino surpreendente: doméstica baiana grava disco com canções do patrão


Sem saber que trabalhava na casa do compositor Paulo César Pinheiro, Glória Bonfim chamou atenção pela voz poderosa

Um canto forte e intuitivo. É assim que o trabalho da baiana Gloria Bomfim, 52 anos, é conhecido. Radicada no Rio de Janeiro há 38 anos, a cantora lança nacionalmente seu primeiro disco, Anel de Aço, pelo selo Quitanda, de Maria Bethânia, e distribuído pela Biscoito Fino. O trabalho será apresentado amanhã aos cariocas, em show no Teatro Rival Petrobras.


O álbum, lançado pela primeira vez em 2007 (Acari Records) com o nome Santo e Orixá, reúne 12 músicas inéditas de Paulo César Pinheiro, compositor carioca que já teve seu trabalho gravado por nomes como Baden Powell (1937-2000), Edu Lobo, Elis Regina (1945-1982), Clara Nunes (1942-1983) e Tom Jobim (1927-1994).


O tema das canções gira em torno do candomblé, com seus rituais e simbologias, um universo bem conhecido por Gloria, que é adepta da religião. O que foi dito até aqui, no entanto, é só uma pequena parte da surpreendente história de como a vida da cantora, também empregada doméstica, foi transformada a partir do contato com o trabalho de Paulo César Pinheiro.


Viagem
Nascida em Areal, no interior baiano, Gloria foi criada na cidade de Barra do Pojuca, no Litoral Norte. Seu pai, um comerciante, ia muito a Feira de Santana para comprar mercadorias e, na estrada, seu companheiro fiel era o rádio. Foi em uma dessas madrugadas que conheceu a música Viagem, de Pinheiro e João de Aquino.


“Quando escutei essa música, me apaixonei. Foi ela que me despertou para cantar”, conta Gloria, relembrando que tinha 11 anos quando o pai lhe mostrou a canção que mudaria sua vida. A partir de então, o canto esteve presente em vários momentos de sua infância, a exemplo dos rituais de candomblé, onde soltava a voz.


Ao completar 14 anos, a vida de Gloria tomou um rumo diferente. Ela foi para o Rio trabalhar como empregada doméstica. O canto, no entanto, continuou firme e uniu-se à nova paixão: cozinhar. “O meu normal é cozinhar cantando”, revela a baiana, que na cidade carioca frequentou rodas de samba e cantou durante cinco anos na Portela.


Em um desses dias de trabalho, enquanto fazia as duas coisas que mais gostava, aconteceu uma das maiores revelações de sua vida. Gloria estava na cozinha “resmungando” Viagem, como define, quando a dona da casa passou e disse: “Puxando saco do patrão, né?”. Ligeiramente confusa, a baiana tentou entender o que estava acontecendo. Como não teve sucesso, foi buscar uma explicação.


Lágrimas
Então, o inusitado ocorreu. Sua patroa, Luciana Rabello, vendo Gloria muito preocupada, explicou que a música que ela estava cantando era uma composição do seu marido: Paulo César Pinheiro. Ao perceber que trabalhava há quatro anos na casa do autor da canção que marcou sua infância, não pôde conter a emoção e encheu os olhos de lágrimas.


A partir de então, Gloria e Luciana, com quem trabalha há 22 anos, tornaram-se amigas e o primeiro passo para a carreira artística estava dado. Conhecedora do potencial vocal da baiana - que apareceu em sua casa pela primeira vez como manicure substituta -, Luciana teve a ideia de produzir um álbum com sua gravadora, a Acari Records.


Conversando com o marido sobre o seu desejo, descobriu que ele já tinha o repertório pronto. Pinheiro conta que pretendia gravar um disco no qual seria o intérprete. “Eu abri mão pela força da voz dela”, revela o carioca. “Senti que as músicas seriam mais bem representadas na voz de Gloria do que na minha”, acrescenta. “Ela é uma pessoa de talento impressionante e raro. Completamente intuitivo”, Luciana faz coro.


Encanteria Em uma das visitas à casa dos amigos, a cantora Maria Bethânia conheceu o álbum, ainda com o nome Santo e Orixá, e ficou encantada. “O disco de Gloria Bomfim me trouxe alegrias grandes. Desde que soube que o Paulinho Pinheiro havia escrito canções com suas histórias de caboclo, santo e orixá, entendi que se tratava de alguma coisa forte e sedutora”, conta Bethânia.
Além de relançar o álbum pelo selo Quitanda, a santo-amarense regravou Encanteria e fez “um disco inteiro inspirado nessa canção belíssima, que na voz de Gloria, no seu suingue, ganha muito”, explica Bethânia, referindo-se à faixa que deu nome ao seu disco, lançado em 2009.


O jeito de interpretar as canções e o fato de compreender o que está sendo dito são apontados por Gloria como pontos positivos que resultam da união entre sua religião e as letras que compõem Anel de Aço.


A música foi uma das formas encontradas por Gloria para dar seguimento ao culto aos orixás. Atualmente “uma das vozes mais representativas do canto afro brasileiro”, de acordo com Pinheiro, a baiana, no entanto, não se considera uma mãe de santo e sim uma zeladora. “Nós, seres humanos, não temos condições de ser mãe de santo, é uma coisa muito pura”, defende Gloria.


Em relação ao seu trabalho, Bethânia faz questão de acrescentar que está orgulhosa. “Espero que as pessoas se emocionem com a voz, a qualidade musical, a alegria e o prazer nítido com que todos participaram. A Quitanda está em festa”, comemora.


É com um trecho de Ogum- Menino, segunda música de Anel de Aço, que tomamos a liberdade de fazer referência à história de Gloria e de encerrar esta matéria: “Ogum riscou seu destino/ Não vai ser qualquer um”.

Paulo Menezes define enredo da Portela como presente para torcida

Ouvir de Paulo Menezes que o trabalho de confecção dos protótipos e produção de alegorias da Portela está dentro do cronograma insinua a impressão de que a Águia está com a visão aguçada. O carnavalesco conversou com o SRZD-Carnaval e destacou que, se as atividades continuarem nesse ritmo, a escola fará um grande desfile em 2012.

Sem ignorar o clima de apreensão que permeia o projeto de todo carnavalesco, Paulo Menezes defende a noção de trabalho em equipe como fator diferencial para o sucesso de um desfile. "Sou parte de uma engrenagem. Cabe a mim ser responsável pela plástica, pela ideia e o desenvolvimento narrativo. Portanto, as coisas não dependem só de mim", argumenta.

Ainda impossibilitada de usar a capacidade total de produção de seu espaço na Cidade do Samba, devido ao incêndio ocorrido no dia 7 de fevereiro, a Portela realiza a produção de figurinos e esculturas em espaços alugados e também nas tendas que foram instaladas após o incidente.

O resgate da escola, porém, não virá das cinzas. Terá sua origem numa Bahia multicor que Paulo Menezes narrou na sinopse de enredo. Com a licença poética de inserir Clara Nunes como a anfitriã desta história, o carnavalesco define o significado deste trabalho.

"O enredo é um presente da escola para todos os portelenses. Não falamos da Clara exatamente da maneira que eles queriam, mas contaremos uma história de muita emoção. Energia, vibração e positividade é o que a Bahia oferece ao nosso desfile.


Além de sincretismos religiosos, o enredo "...E o povo na rua cantando. É feito uma reza, um ritual" vai englobar também as festividades da música, que não deixam de estar interligadas a fé. Cantoras como Daniela Mercury, Ivete Sangalo e os grupos Ilê Aiyê e Filhos de Gandi já foram convidados pela Portela para trazer o irrecusável axé para o desfile.

Porém, esses artistas estão tentando ajustar os horários nas respectivas agendas profissionais para conciliar um possível desfile na Sapucaí com o comando do Carnaval de Salvador. Para que tudo siga da mesma forma que o cronograma da Portela, cabe retirar uma frase de Paulo Menezes do contexto: "Que o Senhor do Bonfim nos abençoe".

Tuiuti realiza eliminatória de sambas nesta sexta

Redação SRZD | Carnaval | 29/09/2011 16h53
As cinco parcerias da disputa de sambas da Paraíso do Tuiuti sobem ao palco nesta sexta para mais uma fase de eliminatória de sambas. A partir das 22h, as composições serão apresentadas ao público.

O concurso vai definir o hino para o enredo em homenagem à cantora Clara Nunes. A grande final está prevista para o dia 7 de outubro.

Já no sábado, a escola promove mais uma edição da tradicional feijoada, a partir das 13h. O evento será paralelo à escolha do 2º casal de mestre-sala e porta-bandeira da agremiação. A quadra da escola fica na Rua São Luiz Gonzaga, nº 1612, em São Cristóvão.

sábado, 24 de setembro de 2011

Jason Stanyek fala sobre a música brasileira na academia americana


Confira entrevista com o professor da New York University
Por Rachel Bertol
Rio de Janeiro





Jason Stanyek é professor da New York University (Foto: Renato Velasco)
Jason Stanyek é um apaixonado pela cultura brasileira. Fluente em português, joga capoeira, toca cavaquinho e adora rodas de samba. Além dessas afinidades com a brasilidade, possui também uma sólida carreira acadêmica, que atualmente inclui o cargo de professor na New York University (NYU) e a filiação ao departamento de Critical Studies in Improvisation da instituição. É editor de multimídia do Journal for the Society of American Music e, até 2013, fará parte de um projeto de pesquisa internacional chamado Improvisation, Community and Social Practice (coordenado pela Social Sciences and Humanities Research Council of Canada). Aproveitando que o Globo Universidade deste sábado, 24, é sobre rock e música, republicamos a entrevista com Stanyek, concedida originalmente em agosto de 2010, quando o pesquisador participou do seminário internacional Rumos da Cultura da Música, evento realizado em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Como professor, Stanyek ministra aulas de graduação e pós-graduação sobre música brasileira, cultura musical, teoria crítica, músicas da diáspora africana, world music, novas mídias e etnomusicologia. E uma curiosidade: todos os anos, ele ensina pagode e cavaquinho no California Brazil Camp na cidade de Cazadero.

Autor de inúmeros artigos, no momento, ele finaliza dois livros. O primeiro é sobre a produção musical brasileira nos EUA, no qual aborda o trabalho de músicos e dançarinos da comunidade de imigrantes no país. O segundo, que está escrevendo com Benjamin Piekut, professor da Southamptom University, tem como tema duetos póstumos, gravações realizadas a partir da “colaboração” entre um cantor vivo e outro morto. Nesta entrevista, Stanyek conta como começou a se interessar pela nossa cultura nos anos 1990 e sobre seus estudos na área musical e sonora.

Stanyek participou do Seminário Rumos da Cultura da Música (Foto: Renato Velasco)
Globo Universidade - Como você começou a se interessar pelo estudo acadêmico da cultura brasileira?
Jason Stanyek – Meus primeiros contatos foram entre 1993 e 1994. Na época, morava em San Diego, onde havia muitos clubes noturnos nos quais se tocava música brasileira. Eu adorava. Era a época da lambada e do axé. Eu tocava numa banda de jazz e nela havia um amigo meu que adorava música brasileira, embora não falasse português, nem conhecesse o Brasil. Ele sempre me dava canções para ouvir. Eu gostava, mas não estava, digamos, apaixonado. No verão de 1996, durante uma visita à minha família em Nova York, estava andando com meu walkman pela Broadway, quando escutei uma canção que mudou tudo. Era “Águas de março”, interpretada por Elis Regina. Foi como se o céu estivesse se abrindo: aquela música me tocou muito. Eu diria que invadiu o meu corpo e naquele instante mudou definitivamente a minha vida. Quando voltei para San Diego, envolvi-me com escola de samba, passei a tocar tamborim, cavaquinho e jogar capoeira. E foi através da capoeira que realmente me envolvi com o país. Aprendi português e me tornei parte da comunidade brasileira na cidade. Foi assim que comecei a escrever sobre a sua cultura. Em 1999, vim morar aqui. Passei cerca de um ano em São Paulo, conhecendo muitas pessoas, dando aulas de inglês, estudando capoeira – tentando, enfim, sobreviver. Desde então, eu volto muito. Só em 2010 já retornei três vezes. Após este período, finalmente comecei a perceber que a minha relação com a cultura brasileira não era simplesmente pessoal, mas dizia algo sobre o mundo em que vivemos. Em 2001, dei o meu primeiro curso sobre a história da música no Brasil. Eu uso a música para falar, na verdade, da história do país. Nessa época, eu dava aula na Universidade de Richmond. Depois, dei esse mesmo curso em outros lugares, como na Universidade de Nova York e em Harvard.

GU – Qual é o foco dos seus estudos?
JK - O meu principal projeto, no momento, é um livro que estou terminando sobre música e dança brasileira nos EUA. Estou trabalhando nele há quatro anos e está quase pronto. Realizei entrevistas nas maiores comunidades de brasileiros em Nova York, Boston, New Jersey, Chicago, Miami, San Diego, Los Angeles e São Francisco. Viajei por muitos lugares. No livro, eu conto a história da presença da música brasileira nos EUA, que não começa com a ida de Carmem Miranda ao país em 1939, como muita gente pensa. Há cem anos, na década de 1910, houve um período em que o maxixe foi muito popular entre os americanos. Por volta de 1913 e 1914, já havia gravações de Ernesto Nazaré que faziam sucesso no país. Há ainda o grande momento com a Bossa Nova, cuja internacionalização ocorreu a partir de Nova York, nos anos 1960. Mas meu livro não é propriamente sobre isso, mas sobre o que acontece depois de meados dos anos 1980, quando uma leva muito grande de brasileiros começou a formar uma comunidade significativa nos Estados Unidos. Não se sabe ao certo, mas fala-se de um milhão de pessoas, ou até 1,5 milhão. É muita gente. Eu tento descobrir o que aconteceu nestes últimos 20 anos, não apenas com as estrelas, mas com os músicos e os dançarinos dessas comunidades. É com eles que você tem, por exemplo, a chegada da capoeira, muito importante para disseminar a cultura brasileira. Hoje, toda grande universidade nos EUA tem grupos de capoeira.

O professor ensina pagode e cavaquinho no California Brazil Camp (Foto: Renato Velasco)
GU - O que mais chamou a sua atenção ao longo da pesquisa?
JS - Após uma temporada em Harvard e depois em Stanford, finalmente, comecei a entender que a vida dessas pessoas era muito interessante e poderia ser contada. São músicos e dançarinos que, além de artistas, trabalham para sobreviver e de certa forma são empreendedores. Há toda uma economia relacionada aos imigrantes. As pessoas enviam dinheiro para o Brasil conseguido com aulas de samba. Estou interessado nessas histórias e em como se negociam relações através da música e da dança. A identidade, nesse caso particular, está sempre em movimento. É interessante ver que a brasilidade também é uma maneira de ganhar a vida. Nos EUA, por exemplo, há muitos brasileiros que foram estudar música experimental ou clássica, e acabaram por se envolver com a música brasileira. Era o que se esperava deles e eles passaram a gostar. Acabaram descobrindo as suas raízes. É o caso da cantora carioca Luciana Souza, muito famosa nos EUA, e muito boa. Ela veio para o nosso país inicialmente para estudar jazz.

Stanyek conta como começou a se interessar pela cultura brasileira (Foto: Renato Velasco)
GU - Em quantos projetos, além desse livro, você está envolvido no momento?
JS - Estou escrevendo, já faz algum tempo, um livro com meu colega Benjamin Piekut, sobre o que chamamos de duetos póstumos, o tema da palestra que eu vim ministrar no Brasil. Esses duetos envolvem a “colaboração” entre um cantor morto e outro vivo. Isto não é algo que ocorra raramente, mas com bastante frequência: há centenas de gravações desse tipo. Inclusive, no Brasil há gravações de duetos póstumos muito famosos. Em 1995, foi lançado no país um CD chamado “Clara Nunes com vida”, em cujo título havia um jogo de palavras com o verbo “convidar”. Clara Nunes (que morreu em 1983) canta no disco com músicos famosos como Chico Buarque, Gilberto Gil e Beth Carvalho. Eu acho que foi o primeiro CD inteiramente gravado com duetos póstumos. Quando cheguei ao Brasil, em 1999, era muito difícil ter acesso a CDs de Clara Nunes. Um dos poucos disponíveis era este e foi assim que entrei em contato com sua arte. Nessa época, eu estava terminando meu doutorado sobre música intercultural, que envolve a colaboração de músicos de diferentes lugares, e me lembro de ter ido a uma Blockbuster, que não existe mais nos EUA, e ficara muito intrigado ao ver, num aparelho de TV, Celine Dion cantando com Frank Sinatra. Eu achei que aquilo dizia muito sobre o mundo em que vivemos e fiquei pensando que nome eu daria àquele tipo de colaboração. Era intercultural, também, pois ela é canadense e ele americano, são pessoas de gerações diferentes, mas havia um detalhe muito importante: ela estava viva e ele morto! Pensei muito e cheguei, enfim, à palavra intermundane, traduzida para o português como “intermundano”. Basicamente, refere-se à colaboração entre diferentes mundos, o dos vivos e o dos mortos. E isto é parte da nossa condição contemporânea: nós interagimos com os mortos num grau jamais visto em nenhum outro momento da nossa história. No livro que estamos escrevendo, falamos da “produtividade” dos mortos, que não param de gerar capital só porque morreram. Às vezes, como vimos no caso de Michael Jackson, há uma espécie de aumento ou intensificação da possibilidade de gerar capital. Quando o artista morre, seu valor é reavaliado, e ele pode valer mais do que antes. A revista Forbes, uma das mais influentes do mundo na área financeira, faz todo ano uma lista dos dez mortos mais ricos do mundo. Sim, é algo engraçado, e este projeto é assim: permite muitas brincadeiras, mas também é muito sério. Algo que diz muito sobre o mundo em que vivemos. Esses duetos envolvem questões econômicas, legais e musicais.

GU - Há outras pesquisas em que esteja envolvido?
JS - Sim. Estou terminando a edição de um grande livro (com o pesquisador da Universidade de Minnesota Sumanth Gopinath), que será publicado pela Oxford University Press, a respeito da mobilidade e das tecnologias para se ouvir música, como celular ou Ipod. Reunirá artigos de pesquisadores dos mais diversos campos. Também estou editando, junto com minha colega brasileira Alessandra Santos, professora de literatura na Universidade de Utah, a edição de uma revista acadêmica com o tema “improvisações brasileiras”. Vamos tratar de improvisações de todo tipo, como as da música, do teatro, do cinema – Walter Salles nos oferece um caso, pois é famoso por deixar os atores improvisarem no set de filmagem. Haverá ainda artigos sobre planejamento urbano, por exemplo, sobre como as favelas vão se formando de maneira improvisada. Em português, há também muitas palavras e expressões que remetem a improvisações, como jeitinho, malandragem, malícia. Queremos mostrar como os brasileiros veem a improvisação nos mais diversos aspectos.

O pesquisador revela que tem muitos projetos relacionados ao Brasil (Foto: Renato Velasco)
GU - No ensino acadêmico americano, que mudanças verificou a respeito dos estudos sobre o Brasil desde que começou a atuar nesse campo?
JS - Mudou muito. Hoje em dia, há uma quantidade de estudos sobre o país como nunca houve antes. As pessoas nos EUA se deram conta, finalmente, de que o Brasil é um país muito importante e que aprender o português pode ser útil, não apenas culturalmente, mas economicamente. Muitas pessoas acabam se apaixonando pelo Brasil, especialmente através da música, o principal meio para chamar a atenção sobre sua cultura. Por exemplo, todos os professores de literatura brasileira nos EUA que eu conheço utilizam canções em suas aulas, apresentando letras de Chico Buarque, Caetano Veloso, Vinicius de Moraes. A música é um passaporte para a cultura brasileira.

GU – E os planos para o futuro?
JS - Tenho muitos projetos ligados ao Brasil. Por exemplo, gostaria de realizar um seminário ou encontro sobre a música brasileira produzida fora do país. Mas tenho outros também. Eu quero muito estudar o som, campo de estudos que é novo. Gostaria de fazer algo sobre o silêncio, neste momento em que tanta gente estuda o barulho, o ruído. Quero falar do silêncio na cidade, não do campo. Estou agora escrevendo um artigo sobre os fones de ouvido que bloqueiam o barulho. Sobre o Brasil, gostaria de destacar uma grande pesquisa que realizei no ano passado em Madureira, no pagode da Tia Doca. A partir dessa pesquisa, escrevi um artigo bastante grande, com meu colega Fabio Oliveira, sobre uma letra de Guará, um ótimo compositor carioca, embora pouco conhecido. A música se chama “Sorriso aberto” e foi gravada por Jovelina Pérola Negra. Fez muito sucesso e, nos anos 1980, foi muito importante para a comunidade de pagode carioca. Agora, nós vamos entrevistar Iara, a filha de Guará, para ter mais informações sobre ele. Quero publicar também essa entrevista. Eu adoro pagode, sou pagodeiro, e adoro pensar o Brasil através deste ritmo, muito importante na história da sua música. Há uma poesia muito importante nessas canções. É uma experiência forte ir à zona norte do Rio de Janeiro, no terreirão da Tia Doca, e passar a noite ouvindo essas músicas que falam sobre a história do país de maneira tão vibrante. Estou escrevendo sobre pagode para conhecer melhor o Brasil.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Centro Cultural João Nogueira



Publicado em 8/02/2011 by Redação, nas categorias Almanaque Brasil Cultura, Cultura, Gestão Cultural, Música, Notíciase com as tags Cultura,Cultura Brasileira,MPB,Música,Música Brasileira,Música Popular Brasileira,Notícias.

A Prefeitura do Rio inicia nesta segunda-feira as obras na antiga casa de shows Imperator, no Méier – Zona Norte da cidade – onde será instalado o Centro Cultural João Nogueira. O município vai investir mais de R$ 21 milhões no espaço, que após a reforma vai reunir cinemas, teatro, restaurante, sala de exposições, livraria, café e bistrô, tornando-se um local de convivência e diversão para os moradores de uma das áreas mais tradicionais da cidade.



A Riourbe, empresa vinculada à Secretaria Municipal de Obras (SMO), já iniciou a demolição interna do Imperador e começa agora a obra de construção do novo espaço de lazer e entretenimento, que deve durar um ano.



O Centro Cultural João Nogueira, batizado com o nome do sambista nascido e criado no Méier, terá três andares e um terraço verde de 1.200 metros quadrados com um restaurante.



No primeiro pavimento, os frequentadores terão acesso a um espaço de convivência com café e bistrô, além do teatro, com capacidade para 850 pessoas sentadas. O segundo piso vai abrigar as três salas de cinema – duas com 117 lugares e outra com 166 – e um espaço multimídia. No último andar ficarão os espaços para exposições e leitura. Ao todo, serão 8.500 metros quadrados de área construída.



O Imperator foi aberto ao público em 1954 como Cine Imperator, o maior cinema da América Latina, com capacidade para 2.400 pessoas. Durante décadas foi uma referência na cidade mas, em 1986, com o declínio da freqüência às salas de cinema de rua, o Cine Imperator fechou as portas.



Cinco anos mais tarde, reabriu como casa de shows e espetáculos para receber grandes nomes da música nacional e internacional. Pisaram em seu palco Bob Dylan, Tina Turner, Stevie B, Roberto Carlos, Tom Jobim, Caetano Veloso, Barão Vermelho, entre muitos outros.



Em 1995, o Imperator foi fechado definitivamente. Agora, depois de 16 anos de abandono, a Prefeitura devolve à cidade e aos cariocas um pedaço da sua história. O Imperator enfim ganhará uma nova estrutura e ressurgirá como um pólo de cultura, lazer e entretenimento para os moradores do Grande Méier e de todo o Rio.



Sobre João Nogueira: Nascido em 12 de novembro de 1941, o sambista do Méier, aos 17 anos, já era diretor de um bloco carnavalesco no bairro. Teve suas obras gravadas por Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Eliana Pittman e muitos outros. Integrou a ala de compositores da Portela e fundou também o bloco “Clube do Samba”, que ajudou a revitalizar o Carnaval de rua carioca. Faleceu em 2000, vitima de um enfarte.

sábado, 17 de setembro de 2011

Martinho da Vila: Samba lá que eu sambo cá






Rio - Estive em Paris onde fui gravar com a cantora
Nana Mouscouri, conhecida como a primeira dama
da música francesa. Também viajei para fazer um
pré-lançamento do meu livro ‘Romance Fluminense’ 
na língua deles. Por lá, muita gente já sabe que a
Unidos de Vila Isabel vai cantar Angola no próximo
Carnaval. 


A primeira vez que estive na África, a maioria 
dos países ainda era colônia. Em 1980 voltei
a Luanda, ainda em tempo de guerra civil, mas
com Lobito e Benguela sobre controle. Entretanto
havia o toque de recolher e eventos que reuniam 
muita gente estavam proibidos, mas o governo
resolveu realizar um grande acontecimento musical
e, comandados pelo Fernando Faro, o Baixinho, 
saiu do Brasil um avião da TAAG lotado, levando
uma caravana de artistas solidários com aquele
país irmão. Sem receber nenhum cachê, capitaneados
pelo Chico Buarque de Hollanda, foram as irmãs
Miúcha, Cristina e Pií, assim como Olívia Hime,
Vanda Sá, Francis Hime, Edu Lobo, Noveli e o
novato Djavan. Eu indiquei o João Nogueira, 
Clara Nunes, Dona Ivone Lara, João do Vale e
o Conjunto Nosso Samba. O Baixinho convidou
a Elba Ramalho, o Quinteto Violado e o Dorival
Caymmi, além de músicos que me fugiram da 
memória e outras pessoas, como o radialista 
Fernando Mansur, hoje na MPB FM. A tônica do
espetáculo foi o samba, mas os shows terminavam 
com todos os artistas no palco cantando o Cio 
da Terra, do Chico e do Milton Nascimento. O 
evento foi batizado como Projeto Calunga e até
hoje é citado como o maior espetáculo musical
ocorrido em Angola.A Vila vai abordar este 
acontecimento no seu desfile. É o “Samba Lá”,
do tema. Voltei a Luanda em 1982 e fui 
encarregado de liderar uma caravana trazendo
um grupo de artistas angolanos ao Brasil.
Vieram com O Canto Livre de Angola, em
janeiro de 1983, os artistas Paulo Kaita, 
Dionízio Rocha, Filipe Mukenga, Carlos Buriti,
André Mingas, Robertinho, Elias Dia Kimuezo,
Joi Artur, Pedrito, Carlitos Dias, Dina Santos, 
Os Kituxis com os percussionistas Joãozinho,
Candinho e Zé Fininho, além do saudoso Mestre
Geraldo e os músicos do grupo Semba Tropical.
Eu dirigi o emocionante Canto Livre, na Sala
Cecília Meireles, cedida graças à ajuda do
professor Arnaldo Niskier. Foi a primeira vez
que veio ao Brasil um grupo de artistas
africanos e também pela vez primeira se 
ouviu um samba ao vivo, no Rio, na Bahia
e em São Paulo. É o “Semba Cá” que 
mostraremos no Carnaval em contraponto 
com o Projeto Kalunga, o “Samba Lá”. 
Eu gostaria muito de fazer o samba 
enredo, mas não fiz porque com a Vila
cantando Angola, direta ou indiretamente,
eu estou dentro do tema. Melhor assim,
pois a nossa Ala de Compositores 
produziu uma bela safra de bons sambas.
Alguns já foram eliminados do concurso,
mas a Família Ferreira, com Mart’nália, 
Tunico e Raoni, em colaboração com 
seus parceiros, está firme na disputa e 
eu creio que os sambas deles serão finalistas. 
Que vença o melhor!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

HOMENAGEM À CLARA NUNES



Foi ao ar ,nesse dia 11 de setembro de 2011,mais uma Homenagem à Clara Nunes.
Dessa vez,o ESPECIAL foi feito por MARCELO GUERRA no Planeta Brasil pela Rádio Bicuda 98,7FM.
Agradecimentos à Equipe da Rádio e em especial a Marcelo Guerra.
Ouçam todo o Programa no youtube no canal:http://www.youtube.com/user/clamagoada
Ouçam aos domingos, de 14 às 15 horas, pela Rádio Bicuda,o Programa PLANETA BRASIL que sempre apresenta o IDOLO EM DESTAQUE, narrado por Marcello Guerra.
ACESSEM:http://www.bicuda.org.br

SAMBA CONCORRENTE DA PORTELA DE DIOGO NOGUEIRA E CIA

Apostamos na vitória da PORTELA 2012!

SAMBA CONCORRENTE DA PORTELA DE CELSO LOPES E CIA

Apostamos na vitória da PORTELA 2012!

Tuiuti: Presidente Thor comenta o desafio do enredo sobre Clara Nunes



Muito almejada como enredo absoluto da Portela, 
a saudosa Clara Nunes reviverá poeticamente nas
bandas de São Cristóvão em 2012.
O presidente da Paraíso do Tuiuti, Renato Thor, 
falou ao SRZD-Carnaval sobre o desafio de emocionar
público e jurados com a trajetória da cantora mineira
na abertura do Carnaval do Grupo de Acesso A.
De volta aos desfiles de sábado, a Tuiuti manteve
 a linha de enredos em homenagem a grandes
 personalidades da música. Campeã do Grupo B
 com uma narrativa sobre o cantor Caetano Veloso,
 a escola aposta desta vez na magia de Clara Nunes,
 um ícone que está longe de ser julgado por corações
 levianos.

 A fim de não serenar a noite na Marquês de Sapucaí,
 o presidente Thor destaca o principal objetivo 
 da escola. "Nossa maior meta é emocionar o
 público e os jurados. Vamos fazer um desfile
 técnico no sentido de que a escola se apresente
 bem, mas a comunidade da Tuiuti é muito forte
 e isso vai contagiar a Avenida", ressalta.
 Com o título "Clara, Claridade... Um Canto
 de Luz no Ylê da Mocidade", a cantora
 reluziu no desfile da paulistana Mocidade
 Alegre em 2005. Na Tuiuti, o enredo começou 
 a ganhar forma na festa de aniversário da escola
 de samba, na qual Thor pediu para que 
 colocassem músicas da artista para tocar.
 Porém, segundo o presidente, o tema de 
 homenagem não é uma predileção do 
 carnavalesco Jack Vasconcelos. Ainda
 assim, o profissional concebeu com vigor
 o cartão de visitas da agremiação para
 2012. A sinopse inspirou "claridade" aos 
 compositores.
"A Tuiuti é abençoada por manter a linha
 de enredos culturais e que tenham grandes
 personagens da nossa história. No
 início, o Jack disse que não dava 
 preferência aos temas de homenagem. 
 Porém, ele se envolveu muito com
 o trabalho. Além disso, é bastante
 participativo na escola. Tanto é que
 falei para ele um dia desses: 
"Cara, 'tô' amarradão na tua", 
 diverte-se Thor.
 Com um ritmo de trabalho constante
 no barracão, a Tuiuti atualmente 
 confecciona as fantasias e já estruturou
 boa parte do carro abre-alas. 
 Para o sábado de Carnaval, oxalá que o 
 pavilhão azul e amarelo não seja só um
 peito cheio de promessa.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

NOSSO SAMBA A CONTINUAR A SUA HOMENAGEM À GUERREIRA



Agora é a vez do Bola Preta receber o Conjunto Nosso Samba com sua homenagem à Clara Nunes.
É neste sábado,dia 02 de setembro de 2011.
Esse era o Conjunto que acompanhou a mineira em 13 anos consecutivos,com 16 LPS e 2 CDS
gravados.
Stênio é o integrante que ainda está na ativa e refez o novo NOSSO SAMBA com outros integrantes
para continuar sua trajetória artística.
Não deixem de comparecer!


Serviço

Horário: às 20:00h
End.: o Centro Cultural Cordão da Bola Preta fica na rua da Relação, 3,
esquina da rua do Lavradio, Centro
Tel. 2240.8049 e 2240.8099
Ingressos: R$ 15,00.
Mais informações: (21) 9923.1412